Quase, quase...
Hollywood, estéril em boas ideias para "thrillers", quase recupera o jeito em "Ruptura" ("Fracture"). Mas este "pas de deux" entre Anthony Hopkins e o emergente Ryan Gosling é minado por um final que cheira a esturro.
Ao descobrir o caso entre a sua jovem mulher e um polícia, o milionário director de uma empresa de aeronáutica decide pôr termo ao casamento assassinando a esposa infiel. Apesar de uma confissão - mais tarde sem efeito por suposta coacção no momento da subscrição -, a arma do crime passional encontra-se em parte incerta. O caso é entregue a um ambicioso delegado do Ministério Público em fase de transição para um escritório de advogados, um momento de instabilidade que o dispersa do processo. Apesar de todas as evidências apontarem para o marido como autor do crime, as provas foram eliminadas por este. Para obter uma condenação do homem ardiloso, o jovem delegado terá de se concentrar para tentar encontrá-las. Nem que para isso tenha de comprometer um passo de gigante na carreira.
"Ruptura" tem duas mais-valia: está realizado com mão de ferro e consegue manter o espectador fixado no duelo entre Hopkins e Gosling. Contudo, apesar do desempenho justo de ambos os actores, nenhuma das personagens é capaz de conquistar a nossa simpatia: o primeiro por, em determinados momentos, parecer possuído pelo espírito de Hanibal Lecter, o segundo por nunca parecer suficientemente inteligente para encimar a sagacidade do primeiro. A dada altura, através do seu discurso banal e acções relaxadas, damos por nós a avaliar se aquele que é considerado um "brilhante e promissor" advogado não só é sobrevalorizado pelos seus pares, como é um autêntico banana.
O "facilitismo" da Justiça perante os argumentos do arguido e o à vontade e arrogância com que este se move naqueles meandros criam um cenário pouco realista. A relação amorosa do elemento do Ministério Público é pouco desenvolvida e acontece com um único objectivo: o de conhecer o pai da rapariga, juiz, que dá uma mãozinha ao herói na recta final. Os últimos momentos, o confronto, não só são explicadinhos até à exaustão, não vá o espectador ser asno, como os argumentos (que não vou revelar), que podem conduzir a uma condenação sem que o criminoso seja julgado pelo mesmo crime (o célebre "double jeopardy"), soam a pouco convincentes do ponto de vista jurídico. 2 estrelitas
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