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Sunday, April 15, 2007

Italianinha


Nanni Moretti é conhecido pela sua postura de esquerda. E foi acusado, graças a "O Caimão", de ter influenciado o eleitorado nas legislativas de 2006 que levantaram Silvio Berlusconi da confortável cadeira do poder. Políticas à parte, o realizador do comovente "O Quarto do Filho" (eu lacrimejei, admito) é, acima de tudo, um dos mais interessantes e coerentes cineastas da actualidade.

A história abrevia-se em meia dúzia de linhas: um produtor de filme de série B, "sem preconceitos", atravessa uma profunda crise pessoal e profissional. A separar-se da mulher e com um projecto encalhado, recebe um dia o guião escrito por uma estreante, nada mais que uma biografia não autorizada e pouco elogiosa de Silvio Berlusconi.

Nesta cruzada para obter financiamento, convencer actores a participarem no filme, subir a auto-estima de uma caloira nas lides da realização, mudar de casa e contar aos filhos menores da separação, e sofrer o abandono por todas as direcções, o produtor encontra refúgio num trabalho que, pela primeira vez na sua carreira, poderá ter algum relevo.

"O Caimão", que raramente cai no erro da propaganda barata, está embrulhado nas melhores qualidades de Moretti: a sensibilidade a abordar dramas familiares, o argumento e os diálogos limpos de ruído, a capacidade de traduzir a naturalidade e a ironia do quotidiano, a facilidade em rodear-se de um séquito de luxo. "O Caimão" é uma súmula das suas habilidades como realizador, argumentista e sobretudo como observador, e o privilégio de as poder usar para transmitir ideologias. A influência da mensagem só depende de nós.

A acumular, Moretti é também de uma fidelidade canina às personagens. Nas histórias que o produtor conta aos filhos e na primeira vez em que lê o argumento do filme sobre Berlusconi, é-nos escancarada a porta para a sua mente: todas as imagens são fruto de uma imaginação demasiado vinculada a um género cinematográfico que está morto e enterrado. Assim como o seu casamento. Assim como Itália. Ele representa uma geração conformada, mas com probabilidades de regeneração; a jovem e insegura argumentista, um país com um vislumbre para o futuro.

Mordaz, cómico e terno, por vezes descarado, "O Caimão" entra para a galeria dos melhores filmes do italiano. Resistirá ao tempo, porque é um filme sobre pessoas envolvidas em circunstâncias políticas. Porque haverá sempre um Berlusconi. Porque, afinal, é uma mensagem de esperança: a possibilidade de largar o passado, seja ele qual for, e reencontrar o conforto. Como diria o polaco no filme, "esta italianinha" tem muito para dar. E eu também: 5 estrelitas.

Moretti esteve por cá. Eu também.


Nanni Moretti esteve ontem na sala 4 do Monumental, em Lisboa, a convite de Paulo Branco, para apresentar o seu mais recente filme, "O Caimão". O texto que se segue é um resumo do que se disse por lá e das minhas impressões. A crítica ao filme fica para mais tarde.

É tímido, nas palavras de Paulo Branco. Tinha razão: apesar de simpático, discursa para o tecto ou para o horizonte, talvez uma técnica herdada dos palcos. Não gosta de entrevistas, nem de viajar, mas não resistiu ao convite do produtor para uma visita a Portugal (desconfio que a próxima produção de Moretti vai receber uma injecção de capital português). Desconhece o que se passa na política nacional (é uma pena a entrevista de José Sócrates não ter sido transmitida na RAI). Mostrou-se agradado com a perspectiva de poder contemplar a sua obra à distância da "histeria" das eleições no seu país, apesar de se ter evaporado da sala pouco depois. Criticou a dissertação dos jornalistas e políticos italianos sobre a obra, sem a terem visto. Jurou a pés juntos que, apesar de ser importante levar ao cinema a História recente da política do seu país (um exemplo que poderiamos seguir), não faz filmes para formar opiniões. Que o seu filme não é "deprimente". E que, apesar de escrever sobre experiências pessoais, a sua visita a Portugal ainda não lhe forneceu ideias para projectos futuros.

Friday, April 6, 2007

3 sugestões em DVD

"O Quarto do Filho", de Nanni Moretti - À boleia da recente estreia de "O Caimão", vale a pena recordar a coerente filmografia do realizador italiano. "Quarto do Filho", de 2001, é uma das suas melhores obras e, portanto, de visionamento obrigatório. Giovanni (Moretti) é um psiquiatra a quem a vida não foi madrasta: o negócio que gere num escritório anexo à sua casa corre de feição, e é também o feliz patriarca de uma família perfeita (que inclui a actriz Jasmine Trinca, igualmente co-protagonista de "Il Caimano"). Mas uma tragédia vai abalar os alicerces daquele lar e fazê-lo reconsiderar a sua opção profissional. 5 estrelitas




"O Gosto dos Outros", de Agnès Jaoui - Mosaico social sobre opostos. Castella, um empresário casado - e com uma cultura abaixo da média - embeiça-se por uma fascinante actriz, que integra uma certa elite cultural da cidade. A comédia da realizadora, argumentista e cantora francesa, que veio recentemente a Portugal apresentar a sua música, é uma encruzilhada de histórias ao estilo de Robert Altman, com o toque realista que só os grandes cineastas europeus conseguem imprimir. 5 estrelitas


"Transamerica", de Duncan Tucker - Ainda agora me custa a engolir a vitória de Reese Whiterspoon na edição dos Óscares do ano passado. Felicity Huffman, a protagonista de "Transamerica" tem aqui uma das melhores intepretações femininas dos últimos anos: quantos papéis dos género temos visto, em que uma mulher tem de representar um homem que quer ser mulher? Pois, a tarefa é árdua. Este "road movie" sensível e em tons rosa - com muitos espinhos - é do mais fascinante que o cinema indie deu à luz na última década. 5 estrelitas




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