Fincher no bom caminho
Nunca entendi como é que David Fincher ascendeu ao estatuto de realizador de culto por uma geração embriagada pelos seus sobrevalorizados "Se7en" e "Fight Club" (e vaiado pelo subvalorizado "Sala de Pânico", vá-se lá perceber isto...). O rapaz, reconheço que perfeccionista, esmera-se na construção técnica da história, mas sem rasgos. E a sua direcção de actores resulta na generalidade em personagens estratosféricas que parecem planar numa outra dimensão, talvez pela sua preferência por mentes perturbadas e tortuosas. Mas "Zodiac" foge à regra.
A mais-valia que Fincher acrescenta é a sua hábil gestão do suspense. De tal modo que, mesmo quem sabe de antemão que o caso Zodiac permanece aberto e o livro de Graysmith não passa de uma tese (com elevada credibilidade, sublinhe-se), tem uma leve esperança de que, no decurso da história, o assassino seja desmascarado e a Justiça feita. É certo que "Zodiac" não foge aos clichés da praxe, principalmente no ambiente da redacção do jornal e na investigação policial. Mas também possui aparentes lugares-comuns, como a sequência inicial, que soa a mais uma banalidade de "thriller" de série B (a loira espampanante que, em vez de fugir, deixa-se estar à espera do seu carniceiro) , mas que encerra detalhes da maior importância.
Em adição, a reconstituição da época, a fotografia, e o excelente naipe de secundários, onde se destacam Brian Cox e Chlöe Sevigny (digna de menção a forma como foi tratada a relação da personagem desta com a de Gyllenhaal, quase assexuada) fazem de "Zodiac" um dos mais interessantes filmes norte-americanos do ano. 4 estrelitas
3 comments:
ainda, não vi, mas quero muito ver. Vou tentar hoje! Abraço
Apesar de não ter visto Zodiac (ainda!), estou longe de concordar contigo de que SE7EN ou The Game, obras prévias de Fincher sejam sobrevalorizadas. São dois filmalhaços, bons demais para um realizador inexperiente como Fincher era na altura.
Um abraço Bracken!
Não concordo. Como disse, ele é um eficaz gestor técnico, mas muito pouco criativo. Não há bem um "estilo Fincher", são normalmente filmes descaracterizados.
Abraço,
Bracken
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