"Obrigado por Fumar": Correcto?
Antes de iniciar a análise a "Obrigado por Fumar" ("Thank You For Smoking"), deixem-me avisar-vos do seguinte: a virginal Katie Holmes interpreta cenas de sexo - vestida, mas gabam-lhe as mamas durante todo o filme - e profere a expressão "foder" umas tantas vezes. Aproveitem esta oportunidade: a película, produzida em 2005, é pré-nupcial. Agora, casada com Tom Cruise e manipulada pelas estranhas regras da Cientologia, duvido que tão cedo venhamos a ver Katie em semelhantes preparos.
Adaptada do best-seller de Christopher Buckley, "Obrigado por Fumar" é uma obra que aborda a guerra (chamar-lhe-ia histeria fundamentalista) anti-tabágica, de forma politicamente incorrecta. No entanto, não poderia ser um filme mais politicamente correcto. Eu explico. A personagem principal, vice-presidente de uma associação que encomenda estudos nada independentes sobre os efeitos do tabagismo - a conclusão é inevitavelmente "não há provas que o sustentem, apenas evidências, que não são provas" -, vagueia pela história a propagandear o livre arbítrio, a escolha perante o acto de fumar. Critica-se o cinema por ter impedido que os seus peões, vulgo actores, tenham deixado de acender o cigarrinho. Mas em "Obrigado por Fumar", ninguém fuma! Vislumbra-se um filme dos anos 30 na televisão, e Aaron Eckhart a olhar desolado para o maço vazio. Nada mais, além de uns pensos impregnados de nicotina que quase o empurram para a morte.
Tecnicamente, o filme roça a perfeição: o genérico, que aproveita emblemas e pacotes de tabaco, é genial - se bem que um pouco previsível. A narração ao longo da história é pertinente, e a montagem sublime. As interpretações estão acima da média, até o "pé" Eckhart consegue imprimir graça a vender a banha da cobra, cheio de lábia e eloquência. Por outro lado, existem algumas lacunas: o encontro do "Esquadrão da Morte" (o álcool, o tabaco e as armas) resulta em diálogos ingénuos, com pouca pimenta; o drama do filho e da separação, embora conste no livro, era dispensável ou, pelo menos, poderia ser reduzido a mínimos.
Li em qualquer lado que "Obrigado por Fumar" é um filme altamente democrático, sem defender um lado concreto. Mas, para mim, é bastante claro: o governador Finisterre (William H. Macy sempre competente) funciona como vilão, ao querer colocar a etiqueta "Veneno" nos maços de tabaco, e Eckhart passa pelo bonacheirão simpático no meio de uma guerra perversa onde nem sempre o objectivo é dar-nos melhor qualidade de vida. O que não é necessariamente mau: enquanto fumador, irrita-me profundamente esta intifada contra a liberdade individual, e tomei posição logo ao início. É certo que fumar nunca é um acto individual, portanto preferia que os milhões gastos em campanha anti-tabágica fossem canalizados para outras coisas, como aperfeiçoar ou criar uma espécie de tabaco sem fumo. Para que todos possamos ser felizes.
3 estrelitas
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