"Simpsons": Tão pouco para tantos (crítica)
AVISO: ESTE TEXTO PODE CONTER SPOILERS
"Os Simpsons" ganham em humor e riqueza de detalhes na sua versão cinematográfica. O desenho é depurado, os cenários mais imaginativos e milimétricos e as piadas têm o "timing" correcto. Mas perderam, pela megalomania do argumento, a interacção peculiar com as outras personagens que habitam Springfield. Parece que Matt Groening se esqueceu de que "Os Simpsons" não é apenas uma família amarela, mas sim uma família num contexto particular: o de uma cidade onde a rotina passa pelo bar de Moe, pela central nuclear de Mr. Burns e pela escola de Skinner.
Desta vez, Homer faz asneira ainda mais grossa. Uma profecia na Igreja dita um destino trágico para Springfield e para os seus habitantes. Enquanto Marge tenta juntar as pontas ao quebra-cabeças, o patriarca adopta um porco e negligencia os filhos, principalmente Bart, que começa a considerar que talvez o beato Flanders seja o modelo de pai que sempre desejou ter. Entretanto, graças à intervenção da sempre atenta Lisa, o lago das cercanias da cidade começa a ser despoluído. Mas, instigado pela mulher e a salivar pelos donuts de borla, Homer decide despejar o contentor com excrementos do suíno naquela massa de água, que se transforma numa máquina criadora de mutantes. O Governo declara estado de sítio e decide apagar Springfield do mapa, encerrando-a numa redoma de vidro. É claro que os amigos e vizinhos não vão ficar contentes...
"Os Simpsons" vs Springfield vs governo norte-americano. Assim se poderia chamar esta primeira aventura de Homer, Marge, Lisa, Bart e Maggie no grande ecrã, que formam uma entidade colectiva que, no filme, parece separada das restantes. E o principal problema é o enchente de personagens do universo Simpsons: estão lá todas, incluindo uma nova, e não há quem não tenha direito a segundos ou minutos de fama. O que me leva a acreditar que, a haver uma sequela, e tendo em conta de que a regra é adicionar personagens, não haverá espaço no ecrã para tanta bonecada.
A acumular, o estilo da narrativa, mais próximo das últimas séries do que das primeiras, onde imperavam as características familiares, também não ajuda. E acaba por distorcer algumas das personagens principais: Maggie é mais esperta do que parece ser na série televisiva, Bart mais lamechas e Homer mais cruel. Só Lisa e Marge permanecem iguais a si mesmas.
Obviamente nem tudo é mau: a brincar, a brincar, Groening vai mandando as suas alfinetadas ecológicas e políticas, abordando temas como a corrupção, a incompetência dos líderes da Nação e a descontrolada poluição resultante de interesses puramente economicistas. O governador Schwarzenegger é representado desprovido de massa cerebral e Flanders mostra uma faceta desconhecida, bem longe da de pai de família exemplar. O criador da série e restantes argumentistas não resistem ao auto-gozo: pela primeira vez, vemos a pilinha de Bart e Maggie profere a primeira palavra. Um conselho: não se levantem da cadeira antes do final dos créditos. É que esta gente sabe o que faz e o entretenimento dura mesmo até ao último minuto.
3 estrelitas
1 comment:
D'Oh!!!!!!!!
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