Criatura! (crítica)
"The Host: A Criatura", que reúne quase todos os géneros cinematográficos possíveis é, muito provavelmente, um dos melhores - se não mesmo o melhor - filme de monstros alguma vez produzido. Principalmente, por ter sido concebido fora do universo anglo-saxónico, podendo assim espraiar-se nos detalhes tantas vezes esquecidos.
Em virtude do despejo negligente de formol no rio Han, em seis anos cria-se no leito daquele curso de água uma criatura monstruosa, comedora de homens, que surge um belo dia à superfície para colocar de pantanas uma comunidade pacata. Um pai solteiro vê a filha ser arrastada pelo ser mutante e, nessa mesma noite, já o velório feito, recebe uma chamada da menor: encontra-se algures num esgoto, onde o monstro vai depositando as suas vítimas. Com a ajuda do pai e dos dois irmãos, segue no encalço da criança e, ao mesmo tempo, é obrigado a enfrentar o Governo e as autoridades, convictas (?) de que a família está infectada com um vírus.
Oscilando entre o drama familiar e o thriller, brilhantemente doseado com humor, "The Host" nunca chega a ser um "scary movie", não obstante um ou outro pulo na cadeira. A tensão está lá, mas é sabiamente entrecortada por momentos ternos, episódios delirantes e crítica social. E, principalmente, prolífero em "calduços" aos norte-americanos, retratando-os, para gáudio do espectador, de suscitadores extensivos e descarados de paranóia colectiva por motivos puramente económicos. Até a alusão à gripe das aves (onde é que ela anda, by the way?) serve para descrever um país capaz de criar histeria fora das suas fronteiras.
O monstro, que reúne um certo misticismo asiático (as barbatanas fazem lembrar carpas-koi, o dorso um dragão), é um verdadeiro triunfo técnico. O bicho mexe-se com uma naturalidade inquietante - foi o próprio realizador quem concebeu os seus movimentos, como se de um actor se tratasse -, sendo particularmente interessante a forma atabalhoada como se move em terra pois, apesar de anfíbio, não é o seu habitat corrente. O quinteto de actores principais, onde se inclui a miúda, são intensos, engraçados, comoventes e interagem com a criatura como se esta estivesse presente. Têm fome, cansam-se, precisam de beber - aquilo que nunca vemos no cinema ameriano. O rosto asiático, particularmente "dotado" para o suspense, atinge aqui níveis superiores. A atmosfera criada por uma fotografia cinzenta e baça, húmida e lamacenta, quase se funde no mutante. Depois disto, espero que não venha por aí nenhuma sequela, nem o remake das américas, pronto a dar cabo do encanto. 4 estrelitas
3 comments:
O remake americano está já em projecto...mas acho que nem me atreverei a ir vê-lo.
abraço
É uma pena, Carlos. Estou contigo: nem o belo Medeia Card me irá convencer a ver esse remake.
Abraço,
Bracken
Estou mesmo em pulgas para ver isto. Há muito tempo que espero pelo seu lançamento nas salas portuguesas.
E isto é histórico! Este é o primeiro filme coreano que por cá não se fica apenas por uma sala em todo o país (normalmente era só o Millenium Alvaláxia... que por acaso é um belo cinema, diga-se de passagem)!
Abraço!
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