"Capacete Dourado": a crítica
Presunçoso. Esta é a melhor palavra para descrever o resultado do filme de Jorge Cramez, uma espécie de Romeu e Julieta do Corgo sem direito a clímax.
Jota, um motoqueiro rebelde "sem interior" conhece Margarida, uma anorética "sem exterior". O resto é previsível: a paixão rebenta entre os dois "outsiders", apesar dos obstáculos criados pelo pai intransigente e autoritário da jovem. "Capacete Dourado" é uma obra de clichés: nos planos (o fogo-de-artifício, o riacho em pano de fundo ou os confettis na festa resultam em qualquer filme), nos diálogos (o improviso dos jovens funciona, as conversas entre adultos soam a falso) e na capacidade risível em estereotipar personagens: o badboy, demasiado badboy, que se apaixona pela menina ingénua, impopular, chacoteada pelos colegas. Mas a falha maior está na incapacidade em criar um clímax, deixando os espectadores abazurdidos com um desfecho sem sal, demasiado escorreito, certinho, impedindo quem vê de sentir o desconforto, o murro no estômago que uma história destas merecia.
Recheado de "cameos" - Alexandra Lencastre como professora gaga, Joaquim Leitão como jogador de snooker -, o filme de Cramez funciona como uma súmula de técnicas que o realizador terá aprendido em muitas horas de visionamento de cinema, minando-lhe a originalidade. Por esse motivo, nunca consegue, esteticamente, fugir do lugar comum. A banda-sonora, que inclui "Danúbio Azul", de Strauss, mitificada no cinema por Stanley Kubrick em "2001-Odisseia no Espaço", poderia ter sido usada como tributo, mas é decalcada num jogo de motoqueiros sem grande sentido. O resto, que varia entre os Echo and the Bunnymen e a "Quero é Viver", de António Variações na voz de Camané, demonstra o bom gosto musical do cineasta, mas um tremendo desperdício ou uma vontade de incluir em quase todas as cenas a sua "cdteca" pessoal. Só por ser português, 2 estrelitas.
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