Monday, October 8, 2007

De novo cego

Foto: Adriano Lima/Futura Press


Sorver o diário de "Blindness" tornou-se um hábito. E Fernando Meirelles, no meio da azáfama da rodagem, lá vai relatando os bastidores da obra a partir do aclamado romance de José Saramago. É certo que fico quase sempre embevecido com o que o cineasta brasileiro escreve, principalmente no que diz respeito às suas percepções sobre as pessoas e os lugares. Mas há alturas em que fico francamente aterrado com a hipótese de vir a destruir as imagens mentais que criei quando li e reli o livro. Depois do seu fascínio à volta de Sandra Oh, Meirelles permitiu agora que o execrável Rei da Camarata 3, facínora da pior espécie, surja no filme de unhas pintadas, uma sugestão do actor que interpreta o papel, Gael García Bernal. Para cúmulo, parece que a personagem vai ter um toque cómico. Ora, eu já frisei aqui, confio plenamente no trabalho de Meirelles e sei que uma adaptação é sempre uma criação. Mas vamos com calma para não abandalhar o espírito do livro - olhe que os fãs são capazes de morder.

As melhores "tiradas" de Fernando Meirelles, "roubadas" do seu diário:

"Para que o personagem não fosse confundido como uma drag-queen em potencial, ou para que o espectador não achasse que estivesse assistindo a “Má Educação-II” ao ver o mexicano com as unhas pintadas, antes de rodar a primeira cena do Rei pedi que ele encontrasse o esmalte por acaso, enquanto falava seu texto. A idéia era fazer o uso do esmalte parecer mais acidental e menos intencional. Só que ele foi muito mais longe e fez metade da cena mais concentrado no esmalte do que em seu texto"


"O vilão cruel ficou parecendo um trapalhão que havia fumado três baseados [charros], alheio ao sofrimento que estava provocando ao seu redor. Um cara mais irresponsável do que perverso e talvez por isso mesmo até mais assustador"


"Dormi mal na noite anterior. Não consegui parar de ficar organizando mentalmente tudo o que precisaria acontecer e pensando em que ordem filmar. Às 6 da manhã eu já estava no saguão do hotel. Lá fora um vento katrínico nas copas das árvores e as rajadas de chuva contra as vidraças pareciam efeito especial mal feito, de tão exagerado"

"Ouço sempre histórias de diretores que maltratam equipe e atores para conseguir o que buscam, mas infelizmente não me encaixo nesta categoria. Fico com pena de todo mundo"

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