Escrito em cinco cenas, "
A Rapariga Morta" possui material dramático suficiente para fazer brilhar as suas estrelas: Piper Laurie, Rose Byrne, Mary Beth Hurt, Britanny Murphy e Kerry Washington são as mais cintilantes. Mas, apesar da qualidade do texto e dos desempenhos neste produto independente, sobressai uma certa precipitação na reacção das personagens o que, por momentos, contamina a coerência da obra.
Uma "estranha" tímida, manipulada pela mãe controladora, descobre o cadáver de uma rapariga no terreno adjacente à sua casa. Depois de aparecer na televisão, envolve-se com um empregado de um supermercado adicto em histórias de serial-killers. Aquele pode ser o escape às amarras impostas pela amarga progenitora. Por sua vez, uma "irmã", médica forense, encarregada de despistar e analisar o cadáver, crê que aquela mulher morta poderá ser o membro da família que desapareceu há 15 anos, dissipando-se o fantasma que a persegue há década e meia. Só assim poderá colocar de vez uma tampa no frasco de anti-depressivos e encarrilar a sua vida. Já a "mulher" descobre que o marido, que a abandona com frequência na espelunca bafienta onde vivem, é um serial-killer que esconde as evidências dos crimes num barracão anexo à residência. Por que via optará: o conformismo de um casamento ou o dever perante a Lei? A "mãe" chega à cidade para identificar o cadáver e decide vasculhar o passado da filha. Nestas investidas, descobre uma neta e o amor da vida desta. Por último, a "rapariga morta" fugiu aos abusos do padrasto, tornou-se prostituta e toxicodepente e, numa fatídica noite, apanha boleia de um assassino, para morrer entre árvores e céu e ser, mais tarde, descoberta sem vida por uma "estranha".
Parece confuso, mas ao longo do filme escrito e realizado por Karen Moncrieff, são unidas as pontas. A cineasta constrói histórias de pessoas, densas, enigmáticas e obscuras, cujas vidas são definitivamente afectadas por um único acontecimento: a morte de uma rapariga. As histórias independentes, divididas por separadores, ganham coerência por si mesmas, e nenhuma é igual à outra. É certo que existe algum desequilíbrio: para mim, o segmento protagonizado por Toni Colette, é o mais fraco e, embora pese o talento desta actriz, não deixa de soar a forçado. Já o da "irmã" e da "mulher" são mais empáticos, identificáveis com o que conhecemos da natureza humana. Por outro lado, e talvez porque cada personagem tem direito a apenas 15-20 minutos de ecrã, as suas reacções são precipitadas, o que mina o realismo cru em que está imbuída a obra.
Não obstante, "A Rapariga Morta" é um elegante exercício cinematográfico, humano, despojado de artifícios, onde se dá espaço para que as actrizes respirem. Vale a pena espreitar, nem que seja para que muita gente saiba o que é verdadeiramente representar. 3 estrelitas