"Rescue Dawn": a crítica
Quando um realizador europeu pega numa história verídica norte-americana, o que podemos esperar? Um intercâmbio de competências. É o que acontece em "Rescue Dawn - Espírito Indomável", um filme bélico "old fashion" brilhantemente escrito e realizado.
Em 1965, o Mundo ainda não sonhava com as proporções que a guerra do Vietname iria assumir dentro de poucos anos. Mas os Estados Unidos já tinham em marcha operações secretas de extermínio de alvos estratégicos, na fronteira com o Laos. O tenente Dieter Dengler só queria voar. Mas na sua primeira missão, a aeronave é alvejada e o militar cai em território inimigo. Aprisionado num campo de concentração feito em bambú, aquele homem obstinado luta pela sua sobrevivência. Até ao fim e nos limites da condição humana.
"Papillon", o clássico de Franklin J. Schaffner, foi o primeiro filme que me veio à memória à medida que Dieter (Christian Bale no seu melhor papel até à data) concebia o seu plano de fuga, aparentemente tão estapafúrdio como o de Dustin Hoffman a contar as marés para escapar para mar alto encavalitado numa jangada rudimentar. É precisamente sem rasgos de câmara nem recurso a efeitos especiais (basta a beleza natural do Laos) que Herzog filma esta luta pela sobrevivência. E o estilo antiquado assenta-lhe como uma luva.
Herzog, que também escreveu o argumento, construiu personagens complexas que reagem ao meio doentio e atroz em que vivem. Há motivos para a paixão do realizador Werner Herzog pelo percurso do tenente Dieter Dengler: embora ao serviço do exército dos EUA, o oficial era natural da Alemanha, país do director do aclamado "Grizzly Man". Este é um trabalho de paixão e isso é notório em todos os frames. Os seus retratos de loucura (Jeremy Davies e Steve Zahn, cadavéricos e completamente entregues às suas personagens) são palpáveis, e o protagonista, um brincalhão que vai progressivamente evoluindo para a paranóia suscitada pelo isolamento da selva são raros neste tipo de filme. O final adocicado e americanizado é o único senão, mas não suficiente para arruinar um filme de guerra humanizado, mas não por isso menos trepidante. 4 estrelitas.