Wednesday, August 29, 2007

Capacete Dourado


A inspiração:
A história do Capacete Dourado, a história de Jota e Margarida, foi inspirada numa notícia de jornal, a propósito de um casal de adolescentes da zona rural de Guimarães, no norte de Portugal, que se tentou enforcar numa ponte, desesperados pela proibição do namoro por parte da família da rapariga (o rapaz era de famílias humildes, tinha abandonado os estudos e trabalhava como mecânico; a rapariga pertencia a uma família de pequenos proprietários rurais). A rapariga morreu e o rapaz salvou-se, porque a corda partiu. O assunto só chegou à imprensa nacional porque o rapaz era maior de idade e foi julgado por homicídio involuntário.

A história:
Negro da noite, uma estrada mal iluminada, motos em acção brincam com o perigo: um grupo
de adolescentes desafia a morte num cruzamento. Jota é o líder do grupo, inclassificável, vive em permanente conflito com tudo e todos. Não consegue parar. A sua disputa com a vida passa-se numa pequena cidade de província subjugada pela rotina dos pequenos conflitos, dos pequenos poderes e das pequenas traições. A sua forma de testar os limites, mais do que uma atitude de rebeldia, é um confronto com o horizonte do futuro que o aguarda. O seu destino não segue linhas rectas a não ser as do asfalto. É então que aparece Margarida. Jota não tem interior, Margarida não tem exterior. Apesar disso, ou por isso mesmo, eles encontram-se. O que poderão fazer? Apenas seguir em frente, mesmo que tudo esteja contra eles. O amor é para ser vivido.

De Jorge Cramez, com Eduardo Frazão, Ana Moreira, Rogério Samora, Alexandre Pinto. Estreia a 20 de Setembro.

Fonte: Atalanta Filmes

Tuesday, August 28, 2007

Cri-ti-couille (Ratatui, a crítica)


Esqueçam os peixes, os pinguins e toda aquela bicharada falante que, ultimamente, andava a transformar o cinema de animação em 3D num marasmo criativo. Chegou uma ratazana para desenjoar. "Ratatui", mais uma afirmação de Brad Bird/Pixar como os maiores maestros da actualidade naquele género, vence por conciliar o brilhantismo técnico ao da escrita. Uma mistura deliciosa.

À primeira vista, a história de Remy poderia contribuir para mais um filme ao estilo "À Procura de Nemo" ou "Happy Feet": a busca por alguém ou por um sonho, contrariada por inevitáveis obstáculos. Na forma, serão idênticos. Mas no conteúdo, separam-se. É que, neste caso, o Homem deixa de ser um acessório só visível através dos membros inferiores ou da voz e passa a integrar a acção. E a fábula ganha outra dimensão: a interacção entre humanos e animais é explorada com a mesma intensidade e emoção que outra obra-prima do género - "Babe" -, conquistando a identificação do espectador com a narrativa e com as personagens. É que desta vez, vemo-nos representados. E aquele seria o sonho de qualquer um de nós: possuir a habilidade de comunicar com um animal com capacidades intelectuais equivalentes às nossas, fazendo dele um compincha para todas as ocasiões.

Mas se um porco amestrado não deve ser fácil de controlar e dirigir no set, que tal criar todo um universo por computador? A equipa de Brad Bird - onde se inclui um português, Afonso Salcedo, na iluminação - recriou uma Paris soturna a fazer lembrar a cidade luz do início do século (embora a história decorra na actualidade), com uma minúcia tal que quase nos leva a acreditar que algumas das imagens são reais. Os cabelos, a calçada, os movimentos da motorizada - tudo é detalhado com uma precisão ímpar.

O argumento, uma falha corrente neste tipo de produto cinematográfico, é simples, mas transversal a todos os escalões etários. Bem escrito, com acutilância, humor e sentimento, nunca escorrega para o choradinho. Os "gags" têm um timing perfeito e as duas personagens principais, a ratazana Remy e o desajeitado Linguini fazem lembrar as duplas douradas de Hollywood do tipo Walter Matthau/Jack Lemon. As vozes, correctas, ganham com o tom cavernoso de Peter O'Toole (sublime como o crítico gastronómico Anton Ego) e a diarreia verbal de Janeane Garofalo (a espevitada Colette). Um aviso: não cheguem tarde à sala de cinema ou correm o risco de perder uma pérola chamada "Lifted". 4 estrelinhas... Michelin

Monday, August 27, 2007

Scarlett d'oiro



Pela primeira vez, o resultado de um questionário "Movies: Confidential" surpreende-me. Scarlett Johansson foi considerada, pelos leitores deste modesto blogue, a loira mais sensual que Hollywood já produziu e deu a conhecer ao Mundo, ultrapassando bombas clássicas da Meca do cinema.

A rapariga é gira, não me interpretem mal. Mas, na minha opinião, tem qualquer coisa de pueril ou uma certa imaturidade que a posicionam a léguas de determinadas veteranas de Hollywood. Por outras palavras, e citando alguém, é "um pãozinho sem sal".

Infelizmente, não consigo determinar a idade de quem foi a votos. Provavelmente, para muitos dos cibernautas, Kim Novak será uma artista russa de cabaré da idade da avozinha, Grace Kelly o título de uma canção de Mika e Jayne Mansfield uma actriz europeia de filmes para festivais alternativos. Curiosamente, ou não, nenhuma destas mulheres recebeu qualquer voto.

Ficam os resultados e, em cima, as fotos das três loiraças com maior percentagem nesta votação. Em comum, as poses de profundo deleite, e os lábios carnudos semi-abertos. E o próximo "enquete" deixo para amanhã.

Scarlett Johansson - 29%
Marilyn Monroe - 25%
Kim Basinger - 14%
Sharon Stone - 11%
Uma Thurman - 11%
Michelle Pfeiffer - 3%
Lauren Bacall - 3%
Jayne Mansfield, Kim Novak, Grace Kelly - 0%

Sunday, August 26, 2007

"Mysterious Skin": Cá dentro (crítica)


"Mysterious Skin", um triunfo do cinema independente norte-americano, incomoda, perturba, cola-se-nos à pele e teima em descolar-se. Uma história sobre a perda da inocência, obrigatória para quem está farto das obras acéfalas que povoam as salas portuguesas nesta altura do ano.

Neill McCormick, de oito anos, é seduzido e abusado sexualmente pelo seu treinador de basebol, em Hutchinson, Texas. Aquela circunstância empurra-o para uma espiral destrutiva: aos 15 anos, começa a prostituir-se, sem que a mãe alcoólica e alienada conheça esta vida dupla. Brian, da mesma idade, acorda na cave da sua casa, a sangrar do nariz. Eclipsa aquelas cinco horas da sua vida, e acredita durante anos que foi abduzido por extra-terrestres. Na busca pela verdade, Brian decide reconstituir aqueles momentos decisivos, conduzindo-se a Neill. O encontro entre ambos, já na adolescência, vai mudar as suas vidas.

Filmado cronologicamente, de anos a anos, meses a meses, "Mysterious Skin" é uma história de duas reacções sobre o mesmo evento. Embora aparentemente díspares, uma mais fantasiosa, outra realista, uma mais sexual, outra assexuada, ambas causam o mesmo dano: aqueles rapazes são incapazes de direccionar a sua vida para algo de frutuoso, e a ferida está permanentemente aberta.

Complexo e emocionalmente desafiador - o espectador vê-se a oscilar entre a repulsa e a compaixão -, este drama de personagens surte o efeito sugerido pelo seu título: a pele é apenas um invólucro que esconde mistérios internos, segredos, cicatrizes, conflitos sem solução. E essas mazelas são capazes de controlar o rumo da nossa vida. "Quem me dera conseguir apagar parte do passado", desabafa uma das personagens.

"Mysterious Skin" não é fácil de digerir. Por isso, aconselha-se para este filme de Gregg Araki uma maturidade suficiente para suportar com a ligeireza possível sequências de abuso sexual de menores, prostituição masculina, violação ou diálogos perversos. Não são gratuitos, mas necessários. Nunca explícitos, sempre sugestionados. Mesmo assim, não é fácil para muita gente, a atestar pelas reacções idiotas na sala de cinema onde assisti a este filme. 4 estrelitas


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