Saturday, June 9, 2007

Tributo: "Tudo Sobre a Minha Mãe"


No "longínquo" ano de 1999, o Mundo parecia ter descoberto Almodóvar. "Tudo Sobre a Minha Mãe" era aclamado em festivais, e as pessoas acorriam ao cinema ao encontro de um cineasta com um percurso ímpar e multipremiado, mas nunca tão "mainstream". Aquele filme era o mais universal de uma filmografia tematicamente marginal. No fundo, "Tudo Sobre a Minha Mãe" era e é um dramalhão, sobre a dor da perda de um filho, da conciliação com o passado como caminho para a libertação, do poder da amizade incondicional. Identificável, portanto. E brilhante. Como Almodóvar nunca mais foi.

À distância do hype internacional, percebe-se como este filme se tornou um clássico. A sensibilidade de Almodóvar nunca esteve tanto à flor da pele, nem antes, nem depois. A sequência de Manuela a correr à chuva para a câmara, que não é mais do que o olhar de um filho moribundo, gritanto, desesperada: "Hijo mio! Hijo mio!", o discurso de Agrado - magistral e honesta Antonia San Juan -, Huma Rojo perdida, a virilidade de Lola que, mesmo com umas mamas maiores do que as da mulher, impunha a sua masculinidade quando esta enfiava um biquini... Almodóvar criou o mais interessante, ecléctico e profundo núcleo de personagens que o cinema europeu jamais conheceu. E uma história que poderia ser arrastada por um pastelão venezuelano é tratada com uma sinceridade emocional pouco usual, que rompe todas as regras do sentimentalismo barato, centrando-se numa personagem, Manuela, que interfere na vida de um punhado de pessoas à deriva. No centro do seu drama, aquela mulher, e apenas uma mulher, é capaz de deixar um rasto luminoso na vida de toda aquela gente.

Os filmes que se seguiram, e estou a recordar-me de "Fala com Ela" ou "Má Educação" ("Volver" é diferente) são produto de um realizador pretensioso, inebriado pelo Óscar e pela atenção internacional. Almodóvar regressou a universos agrestes, ácidos e cruéis, onde a esperança soa sempre a trágico. Em "Tudo Sobre a Minha Mãe", uma tragicomédia que só na aparência é pesada, há um irónico despojamento de emoções, desbragado, escancarado ao Mundo como se Almodóvar tivesse aberto o seu próprio coração. E é isso que todos nós esperamos do cinema de autor. 5 estrelitas

Friday, June 8, 2007

Visualmente arrebatador


Estreia em Portugal a 21 de Junho, este "Inimigos do Império" (The Banquet), da mesma equipa de "O Tigre e o Dragão" e dos coreógrafos de "Matrix" e "Kill Bill".

Finalmente, NÓS titulamos!


Pela primeira vez, as distribuidoras nacionais vão deixar ao critério dos espectadores a escolha do título português de um filme. Depois de tantas adaptações idiotas, agora é a vez de os cinéfilos mostrarem o que vale. A honra de estreia desta iniciativa cabe a "I Could Never Be Your Woman", uma comédia romântica com Michelle Pfeiffer e Paul Rudd. Eu deixo aqui duas propostas: "A Cota Ainda é uma Brasa, Mas Já não É Propriamente uma Teenager Para Andar Nestes Preparos" e "A Cota Só Aceitou Isto para Pagar a Renda do seu Rancho na Califórnia".

As sugestões devem ser enviadas até ao dia 28 de Junho para o e-mail yourwoman@lusomundo.pt, incluindo os dados pessoais e número de telefone para contacto, com a referência Passatempo "I COULD NEVER BE YOUR WOMAN". O vencedor habilita-se ainda a uma viagem a Paris para duas pessoas, durante 3 dias, duas noites.

Quem souber, leva a bicicleta


Quem descobre de que ilustre família de Hollywood é originária este bela moçoila, uma das mais jovens promessas do cinema norte-americano? Uma pista: o primeiro nome dela é Emma.

Thursday, June 7, 2007

Preview: "A Rapariga Morta"


Estreia para a semana este "A Rapariga Morta", um drama independente com a grande Toni Collette.

Wednesday, June 6, 2007

Exercício: Mickey Freakin' Rourke


Acreditem, nunca viram o Mickey Rourke tão pavoroso como em "Killshot", um thriller dirigido por John Madden ("A Paixão de Shakespeare") que, apesar de ainda não ter data de estreia definida, já tem distribuição assegurada em Portugal. Vejam o trailer e controlem o vómito.


Agora, comparem com este excerto de "Nove Semanas e Meia"...


Tuesday, June 5, 2007

Qual das gajas é a melhor?



A questão dos melhores actores em actividade é conversa que vem frequentemente à baila em jantares de amigos. Num destes convívios, lembrei-me de deixar ao critério dos leitores do movies: confidential a escolha de, para já, as mais completas actrizes a trabalhar em cinema. E quando me refiro a "completas" não significa necessariamente atributos físicos, nem exclusivamente a esse "gueto" chamado "Hollywood" (se assim fosse, e sem grandes surpresas para muitos, a minha eleita seria a Kim Basinger). Deixem os vossos comentários com aquelas que consideram as mais versáteis, eficazes e deslumbrantes actrizes. Eu sugiro a seguinte lista, sem ordem definida:
  • Isabelle Huppert

  • Imelda Staunton

  • Sigourney Weaver

  • Cate Blanchett

  • Jodie Foster

  • Miranda Richardson

  • Holly Hunter

  • Meryl Streep

  • Glenn Close

  • Jessica Lange

Da cozinha para o cinema

As dobragens portuguesas são por norma aplaudidas lá fora pela sua qualidade. Pessoalmente, não sou adepto, prefiro as versões originais. Ainda este fim-de-semana, a TVI transmitiu "A Idade do Gelo" com Mandy e companhia a conversarem à tuga e havia partes que não entendia, provavelmente devido a um som deficiente.

Agora, o que não deixa de ser curioso é que uma das personagens de "Ratatui", a nova obra da Disney/Pixar, com estreia a 15 de Agosto em Portugal, vai ter a voz... do chef Vítor Sobral, o cozinheiro do azeite Oliveira da Serra. Ainda bem que ninguém se lembrou do Manuel Luís Goucha.

Monday, June 4, 2007

Eles pelam-se por comédias destas...


Foi classificado pelos críticos do New York Times como "um clássico instantâneo" e a América está a adorar este "Knocked Up", que estreou esta semana com entrada directa para o segundo lugar do box-office. Do mesmo realizador de "Virgem aos 40" e com a loirinha de "A Anatomia de Grey", esta é a história de dois estranhos que se conhecem num bar e mandam uma "queca". Ambos vão à sua vidinha e quando se reencontram a rapariga revela ao rapagão que está embarazada. Apesar das diferenças inconciliáveis, os dois tentam uma relação, para bem da criancinha...

"Body Rice" em DVD


"Body Rice", de Hugo Vieira da Silva, tem sido aclamado pela crítica internacional e premiado em inúmeros festivais. Para quem não teve oportunidade de ir ao cinema ver este "poema punk, um vibrato de revolta captado com uma precisão rara, um sentido da beleza que enfeitiça e subitamente deixa-nos estupefactos", nas palavras de Jean Michel Frodon, da Cahiers du Cinéma, o DVD estará à venda a partir de dia 15 deste mês, por 14,95 euros.

Menção Especial do Júri no Festival de Locarno e prémio de melhor realizador no de Buenos Aires, Body Rice "alterna entre passagens de pura fruição e absoluta gravidade
com uma banda-sonora de raro poder sónico" (Robert Koehler, Variety) e segue as histórias de adolescentes enviados por instituições alemãs para o sul de Portugal, ao abrigo de projectos experimentais de reeducação social, que se desenvolvem desde 1980. É assim que Katrin chega ao Alentejo. Ela vai estabelecer uma relação com o ambiente envolvente, uma situação agravada pela dureza da paisagem e o vazio de uma região socialmente desertificada. Katrin irá formar com Julia e Pedro um refúgio numa terra de ninguém. Com Sylta Fee Wegmann, Alice Dwyer, André Hennicke, Luís Guerra, Julika Jenkins, Pedro Hestnes

EXTRAS: Cenas comentadas por: José Bragança de Miranda, Paulo Cunha e Silva, André Dias, Fernando Lopes, Alberto Seixas Santos e Cláudia Tomaz, Trailer, Spot TV, Capítulos, DVD-ROM (Dossier de Imprensa e Fotos) .
Quem já viu, é favor comentar. Eu vou ficar à espera do DVD.

Sunday, June 3, 2007

A empregada


Com um rasto de publicidade devido ao homicídio da sua realizadora, Adrienne Shelly, encontrada pendurada no varão de uma casa-de-banho, assassinada por um imigrante equatoriano, "Waitress" estreou na semana passada nos EUA com entrada directa para o quinto lugar do box-office. O que para uma comédia romântica independente, "low budget" e sem nomes sonantes, é um feito. Terá a tragédia nos bastidores impulsionado a compra de bilhetes? Pelo trailer, parece-me que há mais sumo que isso e os utilizadores do IMDB parecem ter gostado.




Fincher no bom caminho

Nunca entendi como é que David Fincher ascendeu ao estatuto de realizador de culto por uma geração embriagada pelos seus sobrevalorizados "Se7en" e "Fight Club" (e vaiado pelo subvalorizado "Sala de Pânico", vá-se lá perceber isto...). O rapaz, reconheço que perfeccionista, esmera-se na construção técnica da história, mas sem rasgos. E a sua direcção de actores resulta na generalidade em personagens estratosféricas que parecem planar numa outra dimensão, talvez pela sua preferência por mentes perturbadas e tortuosas. Mas "Zodiac" foge à regra.

Em "Zodiac", a história da obsessão de um homem por um outro homem, respira-se vida. Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) é um cartunista que deambula na sombra da redacção de um jornal. Peça menor daquela máquina, pai solteiro, discreto, interessa-se pelo caso do "serial killer" que alarmou nos EUA, nas décadas de 60 e 70, contornando os holofotes da fama. David Toschi (Mark Ruffalo) é o detective piadético, perspicaz, companheirão, com mais ideias do que meios. Já Paul Avery (Robert Downey Jr.), o jornalista-estrela, pavoneia-se com tiques gay, acha-se mais esperto do que realmente é e vê na bebida uma fonte de inspiração. Estas parecem pessoas reais, desempenhadas eficazmente por este trio de actores, que contracenam com uma química fora do vulgar, como se entre eles pulsasse uma tensão homoerótica.

A mais-valia que Fincher acrescenta é a sua hábil gestão do suspense. De tal modo que, mesmo quem sabe de antemão que o caso Zodiac permanece aberto e o livro de Graysmith não passa de uma tese (com elevada credibilidade, sublinhe-se), tem uma leve esperança de que, no decurso da história, o assassino seja desmascarado e a Justiça feita. É certo que "Zodiac" não foge aos clichés da praxe, principalmente no ambiente da redacção do jornal e na investigação policial. Mas também possui aparentes lugares-comuns, como a sequência inicial, que soa a mais uma banalidade de "thriller" de série B (a loira espampanante que, em vez de fugir, deixa-se estar à espera do seu carniceiro) , mas que encerra detalhes da maior importância.

Em adição, a reconstituição da época, a fotografia, e o excelente naipe de secundários, onde se destacam Brian Cox e Chlöe Sevigny (digna de menção a forma como foi tratada a relação da personagem desta com a de Gyllenhaal, quase assexuada) fazem de "Zodiac" um dos mais interessantes filmes norte-americanos do ano. 4 estrelitas

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