Saturday, December 29, 2007

"The Happening": o poster


We've Sensed It. We've Seen The Signs. Now... It's Happening.

"Eu Sou a Lenda": a crítica


A entrega de Will Smith e uma realização no fio da navalha são os principais predicados de "Eu Sou a Lenda". No entanto, este thriller de ficção científica apocalíptico e submerso numa tensão constante não deixa de ser unidimensional - muito diferente da mensagem da novela que lhe deu origem.

Em 2012, três anos depois de encontrada a suposta cura para o cancro, a Humanidade foi condenada pelo vírus primariamente apresentado como salvador. Homens, mulheres, crianças e animais são agora uma espécie de "vampirozombies" que se alimentam durante a noite. Todos, excepto um indivíduo, o cientista e militar Robert Neville e a sua cadela, Sam. Naquela existência solitária controlada pela luz do dia, o último homem na Terra tenta incessantemente descobrir o antídoto para o vírus.

"Eu Sou a Lenda" é uma adaptação demasiado livre do romance de Richard Matheson, desprendendo-se do conceito original. Em "The Omega Man", o filme da década de 70 em que Neville é Charlton Heston, a adaptação fiel conta a história de uma sociedade contaminada por um vírus, organizada e hierarquizada, que vê na personagem principal uma ameaça contra esta nova forma social. Ele é, portanto, o monstro. Em "Eu Sou a Lenda", os infectados são seres quase acéfalos (embora liderados) e não há qualquer indício ao longo da história de que estes encarem o cientista como um perigo para a sua existência. Perseguem-no guiados pelos seus instintos mais básicos, os de protecção da matilha e da alimentação. É certo que esta abordagem pode ser mais interessante cinematograficamente (até porque ainda recentemente, "A Invasão" tinha um argumento semelhante à novela "I am Legend") e permite criar um clima de tensão mais apurado e cenas de acção mais trepidantes.

Mesmo assim, ou não fosse esta uma história apocalíptica, residem aqui múltiplos ingredientes bíblicos: a perda de fé e o seu reencontro ou a dizimação para a renovação (o dilúvio), por exemplo. Neville, uma espécie de Noé sem arca, tem nas suas mãos o futuro da Humanidade.

Os efeitos CGI servem a história sem a sufocar, mas não se entende o recurso ao digital no que diz respeito aos Noctívagos quando obras recentes (lembro-me de "A Descida") utilizaram eficientemente actores e caracterização para interpretar monstros daquele tipo, imprimindo-lhe outro nível de realismo. O resultado são seres com movimentos demasiado velozes, tipo Homem-Aranha, subtraindo alguma credibilidade. O mesmo não sucede na composição de uma Nova Iorque em ruína. No que diz respeito ao protagonista, Will Smith está como o vinho do Porto e prova que é um dos melhores actores norte-americano da sua geração. Não é comum, num filme do género, uma personagem tão profunda, a oscilar entre a vulnerabilidade, a loucura e a coragem. 3 estrelitas

Tuesday, December 18, 2007

Hancock, super-herói do box-office


"I Am Legend" arrecadou uns gigantes 77 milhões de dólares no fim-de-semana de estreia. Will Smith, "one man show" neste filme, arrisca-se a tornar-se o mais rentável actor norte-americano em actividade. "Hancock", o seu próximo filme, estreia em Portugal a 3 de Julho de 2008, e já tem teaser. Quanto valerá nas bilheteiras? Muito. Ora vejam...

Monday, December 17, 2007

10 000 B.C. ou 20 000 Léguas Submarinas?


É impressão minha, ou Roland Emmerich quer repetir o "feito" de "Waterworld"?

"Promessas Perigosas": a crítica


David Cronenberg é, muito provavelmente, o mais multifacetado realizador norte-americano. Depois do arrojo temático de "A Mosca" e das fantasias esquizofrénicas de "Exystenz" e "Festim Nú", o cineasta pisa há dois filmes (contando com "Uma História de Violência") o terreno muitas vezes pantanoso do cinema clássico, mesmo que duro e árido. Mas em "Promessas Perigosas", o autor confere-lhe um toque de ternura e romantismo. Algo inusitado em Cronenberg. Mas lá que resulta...

Há uma cena em "Promessas Perigosas" de carácter antológico: uma sequência de luta numa sauna londrina, em que o soberbo Viggo Mortensen (dêem-lhe o Óscar, por favor), totalmente desnudado, se esfola para se manter vivo perante dois membros da máfia russa. Esta cena é ilustrativa do cuidado cénico de Cronenberg, que coreografou a cena sem recorrer a duplos para lhe creditar crueza e realismo. O resultado é espantoso aos olhos do espectador: a sequência não só se delonga em detalhes, como mostra um protagonista que sofre. E bem.

Nesta história sobre pecado e redenção, sobre nascimento e morte (físico e da alma), em que uma parteira descobre o que não devia sobre os meandros da máfia russa em Londres, há quase sempre um prenúncio de tragédia, da sequência inicial à final. Logo a abrir, um barbeiro corta o cabelo a um cliente russo. O sobrinho, com um atraso mental, entra a tiritar pelo estabelecimento e olha em desespero para o tio. Só esse olhar já é o anúncio de que algo vai acontecer e o espectador tem de estar preparado para o que ali vem. A técnica é usada ao longo de todo o filme, mesmo quando as nossas expectativas saem frustradas. Cronenberg faz-nos acreditar, mesmo quando é aparentemente previsível, que a história toma o rumo que imaginámos.

Deixem-me falar-vos dos actores: para terem uma ideia da entrega de Viggo Mortensen ao papel do misterioso motorista do filho do "padrinho" do clã que, muito certamente, lhe valerá no mínimo uma nomeação para os prémios da academia, fiquem a saber que este viajou a Moscovo, Sampetersburgo e aos montes Urais sozinho, embrenhando-se numa cultura e numa língua estranhas. Aprendeu o dialecto siberiano e decorou as suas falas em russo e ucraniano. Sorveu praticamente tudo o que havia para sorver sobre os "vory v zakone" (um grupo da máfia russo). O resultado é uma composição perfeita. Naomi Watts, que não tem o peso do filme ás costas, é como sempre excelente, principalmente na interacção com Mortensen. A atormentada personagem de Vincente Cassel é magistralmente representada. Por isso, se há "ensemble cast" digno de registo este ano, ei-lo. 5 estrelitas

Saturday, December 15, 2007

4 minutos de "Cloverfield"


Os produtores de "Cloverfield" querem redefinir o conceito de filme de monstros. Para já, têm o mérito de terem colocado meio mundo cibernético a discutir a temática da obra. Aqui, ficam quatro minutos da mais pura confusão.

Harry igual a ele mesmo


Eis a primeira imagem de "Harry Potter e o Príncipe Misterioso" (tradução portuguesa, ou "Harry Potter and the Half Blood Prince" no original), divulgada pela Warner Bros.

Wednesday, December 12, 2007

Grande em grande


O trailer de "Youth Without Youth", o regresso do grande Francis Ford Coppola.

Tuesday, December 11, 2007

O insólito acontece

Um produtor norte-americano quer fazer o remake de "Metropolis", o clássico de ficção científica da era do mudo que Fritz Lang realizou com meios financeiros sem precedentes para a altura. A obra é ímpar, já foi restaurada, em 2002, por isso não me parece que uma nova versão, recheada de efeitos especiais e CGI possa criar algum interesse junto de uma nova geração. Para mim, Lang já deu umas boas reviravoltas na tumba...





Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull


O poster já cá canta...

Tuesday, December 4, 2007

Há coisas que não entendo...


É inacreditável: Reese Whiterspoon, aos 31 anos, lidera a lista das actrizes mais bem pagas de Hollywood. A loira sensaborona recebe entre 15 e 20 milhões por filme. Seguem-se:

2. Angelina Jolie;
3. Cameron Diaz - recebe 15 milhões por filme, quando não se trata de dar a voz à princesa Fiona de "Shrek": aí, o cheque vem a dobrar;
4. Nicole Kidman - no ano anterior ocupava a segunda posição, mas esta "leading lady" já não é uma bomba no box-office. Por isso, passou a ser paga entre 10 e 15 milhões de dólares;
5. Renee Zellwegger, a receber o mesmo que as senhoras que se seguem, até à Jodie Foster;
6. Sandra Bullock;
7. Julia Roberts;
8. Drew Barrymore;
9. Jodie Foster (excelente actriz, recebe em média menos 3 milhões que as colegas anteriores)
10. Halle Berry - vale 10 milhões.

Para os fãs de Lynch


Edição especial de coleccionador de "Inland Empire", nas lojas a 7 de Dezembro.
PVP recomendado: 22.95€

Sinopse:
A história de um mistério…
Um mistério por dentro de
Mundos dentro de mundos…
Desdobrando-se à volta de
Uma mulher…
Uma mulher apaixonada
E em apuros

Um filme com: LAURA DERN, JEREMY IRONS, JUSTIN THEROUX, HARRY DEAN STANTON

Disco 1: Filme ■ Trailer ■ Capítulos
Disco 2: «Lynch 2» (30 min) ■ «Pretty as a Picture: The Art of David Lynch» de Toby Keeler (75 min) ■ Rui Pedro Tendinha entrevista o realizador e elenco de «Inland Empire» ■ DVD ROM (Dossier e artigos de imprensa, Fotos)

DVD 9; PAL Zona 2; Formato: 1.78:1; Ecrã 16/9 compatível com 4/3; cor; Duração: 172’; Som 2.0 Dolby Stereo; Língua Original: Inglês; Legendas: Português

Monday, December 3, 2007

Actor é mesmo inseguro

A montagem de "Blindness" ("Ensaio Sobre a Cegueira") está praticamente concluída. Fernando Meirelles, escreve no seu blogue, vai debastar o "juntão" de 2h40 para 2h, para poupar o espectador. São 40 minutos para o lixo, mas que a edição em DVD, com uns pozinhos de extras, vai certamente compensar. Sou, e volto a frisar, um leitor ávido de "Diário de Blindness", onde o cineasta brasileiro vai contando pormenores suculentos com aquela insegurança típica dos grandes artistas. E por falar em insegurança, não resisto a registar aqui os comentários do realizador sobre o comportamento de Mark Ruffalo (na foto com Julianne Moore e Meirelles) durante as filmagens:

"A Julianne parece que gostou da meia hora a que assistiu e só achou que estava meio exagerada numa cena em que ela chora. Fiquei de rever o material. O Mark, como era de se esperar, elogiou o que viu, elogiou a Julianne, mas ficou arrasado com sua própria performance. Típico. “Eu disse que você deveria ter chamado o Sean Penn”, falou. De fato algumas vezes, depois de acabarmos uma cena ele dizia: “Acho que o Sean Penn ainda está disponível, não me ofendo se você quiser me substituir”. Uma daquelas piadas que não são totalmente piada. Já vi muita gente culpada na vida, mas o Mark bate todos os recordes. É pior do que eu.Ontem, o Gael (que deu um olé na imprensa brasileira dizendo que tinha voltado para o México, mas ficou tirando umas férias no Brasil) passou na sala de montagem para ver um pouco do filme e depois de elogiar as performances dos colegas me perguntou se algum ator já havia assistido a alguma coisa. Disse que só o Mark e a Julianne haviam visto algumas cenas. “E o Mark achou que estava péssimo, certo?”, perguntou. Risadas."

Certinhos nos Óscares


Três filmes que estão mais que garantidos na cerimónia dos prémios da Academia.

"No Country for Old Men", de Joel e Ethan Coen


"Eastern Promises", de David Cronenberg


"Charlie Wilson's War", de Mike Nichols

Disney ressuscitada


O filme da Disney de que toda a gente fala...

Thursday, November 8, 2007

A outra face de Mary Poppins


A verdadeira e assustadora Mary Poppins. Não aconselhável a pessoas impressionáveis, e muito menos a criancinhas.

Tuesday, November 6, 2007

Control


A história do enigmático vocalista dos Joy Divison, que cometeu suicídio aos 23 anos. O premiado "Control", de Anton Corbijn, estreia daqui a 15 dias em Portugal.

Quando estacionar, tenha medo...


É noite. Madrugada, mesmo. Estaciona o seu carro numa garagem subterrânea, onde não se avista vivalma. E se um psicopata estivesse à espreita? Quem escreveu P2, com estreia para breve nos EUA, lembrou-se disto...


Sunday, November 4, 2007

"A Invasão": crítica


Valerá a pena sacrificar aquilo que nos define como seres humanos - a emoção -, por um Mundo equilibrado e pacífico? A resposta é ambígua e deixa um sabor a amargo em "A Invasão", um filme competente mas formulaico, apesar das interpretações de grande nível.

As filmagens de "A Invasão", uma reciclagem do já por si multireciclado "The Body Snatchers" não foram tranquilas. Parece que os estúdios não ficaram satisfeitos com o resultado final da obra do realizador alemão Oliver Hirschbiegel ("A Queda") e encomendaram aos irmãos Wachowsky ("The Matrix") a reescrita do argumento e a James McTeigue ("V de Vingança") cenas adicionais que compusessem o filme. Não se conhece se o resultado desta mexida abrupta terá alterado significativamente a obra original, mas mesmo assim a "A Invasão" redunda num filme satisfatório e genuinamente de entretenimento.

Nesta "Guerra dos Mundos" onde Nicole Kidman troca de papel com Tom Cruise, como uma mãe disposta a enfrentar a ameaça alienígena para salvar o filho, há uma nota digna de registo: a montagem é soberba, tornando o filme mais fluido e "suspenseful", com os constantes "forwards". À excepção deste rasgo técnico, tudo o resto é o que já vimos.

Embora ainda agora não esteja certo se Kidman é a escolha mais correcta para este tipo de papel - a actriz é tão "bloco de gelo" que mais parece alinhar pelo bloco extraterrestre -, a australiana oscarizada tem aqui, talvez por essa característica, uma das melhores interpretações da sua carreira. Provavelmente, "A Invasão" não necessita de uma mulher vulnerável, mas cerebral o suficiente para discernir as potencialidades de sobrevivência a contra-relógio. E nisso, Kidman é exemplar.

Ao invés, não se entende muito bem o que faz ali Daniel Craig. Par romântico? Talvez, mas pouco. "Sidekick"? Talvez, mas muito pouco. O actor entra e sai de cena a uma velocidade espantosa - provavelmente, porque foi durante a rodagem do filme que soube que iria substituir Pierce Brosnan como James Bond e ausentou-se para intermináveis reuniões com a família Broccoli. No cômputo geral, é Nicole Kidman que sustenta todo o filme, que poderia ser mais "dark" e viscoso e não tão depurado, high-tech e... azul-cinza. 3 estrelitas

Thursday, November 1, 2007

"A Outra Margem": crítica


Luis Filipe Rocha é um dos - senão o mais - interessante cineasta português. Do drama político "Camarate" aos comoventes "Adeus, Pai" e "A Passagem da Noite", o pouco fecundo cineasta (só dirigiu dez filmes) prova com "A Outra Margem" ser dono de uma sensibilidade invulgar para contar histórias portuguesas... com cunho universal.

Ricardo, um travesti homossexual, perdeu o amor da sua vida. Ele, que tinha fugido da terra há 16 anos, em vésperas de um casamento preparado pelas amarras sociais daquele meio claustrofóbico e preconceituoso, afunda-se na solidão e tenta o suicídio. Maria, que não recebia notícias do irmão desde então, viaja para Lisboa para resgatar Ricardo para a vida. E convida-o a recuperar em sua casa, que partilha com o filho, Vasco, um adolescente com trissomia 21 que trabalha num ginásio. Neste regresso ao passado, tio e sobrinho, dois desconhecidos para quem todos sonharam a "normalidade" estabelecem uma relação de amor incondicional.

"A Outra Margem" é um filme sobre a perda, e como as circunstâncias que daí surgem podem estancar o sofrimento e devolver-nos à vida - à semelhança de "O Quarto do Filho", de Nanni Moretti, curiosamente referenciado no filme de Luís Filipe Rocha. Emocionalmente genuíno, a história é passível de provocar lágrimas no mais empedernido dos espectadores, não porque as personagens sufoquem em choro ou se abracem ao som de música melosa. São os silêncios cortantes e a sinceridade das representações das pessoas da terra que emocionam.

"A Outra Margem" é também um filme de actores, e Filipe Duarte e Tomás Almeida, vencedores ex-aequo do prémio no Festival de Cinema do Mundo de Montréal são inseparavelmente a engrenagem desta história. O primeiro foi hábil na construção da sua personagem, livrando-a dos "clichés" ou dos exageros do costume. A sua expressão facial, o sorriso, o que diz e como diz - muito pouco para o que se adivinha que vai lá dentro - formam um trabalho pouco usual no panorama nacional, colocando-o ao nível do melhor que se faz lá fora. Mas seria injusto não sublinhar as prestações de Maria D'Aires, uma das melhores e menos aproveitadas actrizes portuguesas e da surpreendente Sara Graça, a noiva que nunca conseguiu ultrapassar a rejeição.

Da sequência de abertura, um triunfo técnico e emocional, milimetricamente planeado, à fotografia, que enaltece as belezas do país, passando pela selecção cuidada dos actores secundários, todos eles convincentes, fazem deste retrato social um dos melhores filmes portugueses dos últimos anos, só secundado pelo brilhante "Alice". 4 estrelitas


Rewind, sff!


Que Michel Gondry, realizador de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" e "A Ciência dos Sonhos", parece filmar sob efeito de ácidos, não é novidade para ninguém. Agora, o criativo cineasta francês parece ter aumentado a dose, a atestar pelo trailer do seu novo filme, "Be Kind Rewind", que estreia em 2008 nos EUA. No mínimo... alucinado.

Friday, October 26, 2007

"Rescue Dawn": a crítica


Quando um realizador europeu pega numa história verídica norte-americana, o que podemos esperar? Um intercâmbio de competências. É o que acontece em "Rescue Dawn - Espírito Indomável", um filme bélico "old fashion" brilhantemente escrito e realizado.

Em 1965, o Mundo ainda não sonhava com as proporções que a guerra do Vietname iria assumir dentro de poucos anos. Mas os Estados Unidos já tinham em marcha operações secretas de extermínio de alvos estratégicos, na fronteira com o Laos. O tenente Dieter Dengler só queria voar. Mas na sua primeira missão, a aeronave é alvejada e o militar cai em território inimigo. Aprisionado num campo de concentração feito em bambú, aquele homem obstinado luta pela sua sobrevivência. Até ao fim e nos limites da condição humana.

"Papillon", o clássico de Franklin J. Schaffner, foi o primeiro filme que me veio à memória à medida que Dieter (Christian Bale no seu melhor papel até à data) concebia o seu plano de fuga, aparentemente tão estapafúrdio como o de Dustin Hoffman a contar as marés para escapar para mar alto encavalitado numa jangada rudimentar. É precisamente sem rasgos de câmara nem recurso a efeitos especiais (basta a beleza natural do Laos) que Herzog filma esta luta pela sobrevivência. E o estilo antiquado assenta-lhe como uma luva.

Herzog, que também escreveu o argumento, construiu personagens complexas que reagem ao meio doentio e atroz em que vivem. Há motivos para a paixão do realizador Werner Herzog pelo percurso do tenente Dieter Dengler: embora ao serviço do exército dos EUA, o oficial era natural da Alemanha, país do director do aclamado "Grizzly Man". Este é um trabalho de paixão e isso é notório em todos os frames. Os seus retratos de loucura (Jeremy Davies e Steve Zahn, cadavéricos e completamente entregues às suas personagens) são palpáveis, e o protagonista, um brincalhão que vai progressivamente evoluindo para a paranóia suscitada pelo isolamento da selva são raros neste tipo de filme. O final adocicado e americanizado é o único senão, mas não suficiente para arruinar um filme de guerra humanizado, mas não por isso menos trepidante. 4 estrelitas.


Monday, October 22, 2007

Manual macabro


"Manual de Instruções para Crimes Banais" ("Man Bites Dog" ou "C'est arrivé près de chez vous") é um filme de culto belga. A cena que se segue é hilariante - e macabra. Ora vejam...


"As Canções de Amor": crítica


"As Canções de Amor" é a maior tragédia romântica dos últimos anos. E também a mais amoral. Este musical de Christophe Honoré é um triunfo pela sua simplicidade - obrigatório, portanto.

O produtor Paulo Branco tem finalmente motivos para sentir orgulho numa obra onde aplicou o seu dinheiro. "Les Chansons D'Amour", que segue a trajectória interior de um triângulo amoroso, é o mais belo filme que vi este ano - e já bisei. Mas como em qualquer trio, o amor não é uniforme, e Ismäel e Julie, embora vivam uma relação estafada, constituem a locomotiva emocional. Como canta Alice, o terceiro vértice, "eu sou [apenas] a ponte entre as duas margens". Não vale a pena contar muito mais, para que a história não fique orfã de encanto. Mas deixem-me adiantar-vos que em "As Canções de Amor" há perda, reencontro e... Paris.

O drama musical do francês Christophe Honoré é um deleite, para a visão e para os ouvidos. Os protagonistas libertam os seus estados de espírito a cantar, tão ou mais naturalmente que em "Dancer in the Dark", de Lars Von Trier. As letras e música são belíssimas - esqueçam a voz pois, embora competentes, os actores limitam-se a sussurrar.

Mas a grande virtude desta obra romântica é espraiar-se sobre o amor sem condicionalismos. Pessoas amam pessoas, ponto final. Não há espaço para falsos moralismos, e as personagens reagem com ponderação e contenção às mais inusitadas expressões amorosas. Muitas destas sequências podem provocar desconforto na mente mais conservadora mas... olhem, aguentem-se! Nenhuma das cenas é gratuita, antes poética. Os corpos fundem-se, as vozes entoam em coro, e dá vontade de ser assim, de discutir a cantar. Provavelmente, teríamos todos mais amor. 5 estrelitas

Sunday, October 21, 2007

"A Estranha Em Mim": Crítica


Mesmo com Neil Jordan ao leme, "A Estranha em Mim" ("The Brave One") resulta num thriller banal, previsível e repleto de coincidências convenientes que retiram credibilidade ao argumento. Felizmente, está lá Jodie Foster para safar a onça.

Erika Bain, locutora de um programa de rádio, vive um romance idílico com um médico. Numa noite em que passeiam o cão em Central Park, Nova Iorque, o casal é selvativamente agredido por um bando de rufias. Ela sobrevive, ele morre. Quando Erika acorda de um coma de três semanas, já o noivo foi a enterrar. Despedaçada, aquela mulher que costumava calcorrear a cidade a gravar sons e a escrever belos textos sobre Nova Iorque descobre que já não é a mesma. E a sede de vingança transforma-a numa espécie de vigilante nocturno que aniquila a escumalha semeadora do medo.

Este argumento - que poderia ter sido escrito para Charles Bronson -, foi parar às mãos do aclamado realizador de "Jogo de Lágrimas" e "Breakfast in Pluto", dois excelentes exemplos da capacidade indiscutível do irlandês para criar bom cinema - ambos ambientados no seu país. Mas uma vez a trabalhar com os estúdios norte-americanos, Jordan parece perder o cunho pessoal e acaba por ser tão eficiente como qualquer realizador mediano a operar na indústria. É o que acontece em "The Brave One".

Mas o principal problema reside na história. A ideia não é original - recordo-me de um punhado de filmes dos anos 80 com a mesma premissa, protagonizados pelos durões Bronson ou Seagall -, mas neste caso há uma sucessão de coincidências e facilitismos para ajudar à sua concretização. No espaço de poucas semanas, acontece a Erika o que a um comum mortal apenas sucede uma vez na vida: entra numa loja de conveniência e a empregada é assassinada a sangue-frio; anda de metro e é ameaçada com uma faca borboleta por dois negros; percorre as ruas e encontra uma prostituta (a promissora filha de Lenny Kravitz) moribunda nas traseiras do carro de um chulo... e por aí fora. Se há alguém realmente azarado, chama-se Erika Bain. Por outro lado, a investigação levada a cabo pelo carismático Terrence Howard é demasiado facilitada: o inspector estabelece de imediato paralelo entre os sucessivos homicídios, mas tarda a descobrir quem é o autor, quando Erika não é propriamente a mais cautelosa de todos os assassinos.


Jodie Foster é o motor de tudo isto. Não fosse o seu magnetismo natural - não nos cansamos de a ver -, e este filme estaria perdido. Foster é, sem margem para discussão, uma das melhores actrizes norte-americanas de sempre e das poucas capaz de tão eficientemente usar a voz e a expressão corporal e do rosto para transmitir o turbilhão interno das suas personagens. Ela, que é especialista em mulher "outsiders", normalmente frágeis que progressivamente se transformam em heroínas, brilha aqui como poucas conseguiriam fazê-lo. E, só por isso, "the Brava One" vale 3 estrelitas.


Wednesday, October 17, 2007

"Expiação" finalmente no cinema


"Expiação", o grande romance de Ian McEwan, tornou-se filme. E parece que dos bons. Com Keira Knightley e James McAvoy.


Sunday, October 14, 2007

Que raio...


O filme é realizado pelo aclamado Mike Newell, a partir do romance do nobelizado Gabriel Garcia Márquez e com um elenco de luxo, de Javier Bardem a Catalina Sandino Moreno, passando pela brasileira Fernanda Montenegro. Com tantos predicados, este "Amor em Tempos de Cólera" não merecia um trailer oficial mais apelativo?


Quando é que isto pára?


Ainda "Saw IV" não estreou e os estúdios já têm o quinto episódio da saga quase integralmente alinhavado. Parece que as filmagens vão ter início em Janeiro e a estreia está prevista para Outubro de 2008. David Hackl, o novo realizador, já falou sobre "Saw V".

Monday, October 8, 2007

Preview: "A Outra Margem"


Quer-me parecer que vem coisa boa deste "A Outra Margem", de Luis Filipe Rocha, com Filipe Duarte (premiado como "melhor actor" na última edição do festival de Montréal), Maria D'Aires e Maria João Luís. Estreia a 25 de Outubro.

Trailer 1


Trailer 2

De novo cego

Foto: Adriano Lima/Futura Press


Sorver o diário de "Blindness" tornou-se um hábito. E Fernando Meirelles, no meio da azáfama da rodagem, lá vai relatando os bastidores da obra a partir do aclamado romance de José Saramago. É certo que fico quase sempre embevecido com o que o cineasta brasileiro escreve, principalmente no que diz respeito às suas percepções sobre as pessoas e os lugares. Mas há alturas em que fico francamente aterrado com a hipótese de vir a destruir as imagens mentais que criei quando li e reli o livro. Depois do seu fascínio à volta de Sandra Oh, Meirelles permitiu agora que o execrável Rei da Camarata 3, facínora da pior espécie, surja no filme de unhas pintadas, uma sugestão do actor que interpreta o papel, Gael García Bernal. Para cúmulo, parece que a personagem vai ter um toque cómico. Ora, eu já frisei aqui, confio plenamente no trabalho de Meirelles e sei que uma adaptação é sempre uma criação. Mas vamos com calma para não abandalhar o espírito do livro - olhe que os fãs são capazes de morder.

As melhores "tiradas" de Fernando Meirelles, "roubadas" do seu diário:

"Para que o personagem não fosse confundido como uma drag-queen em potencial, ou para que o espectador não achasse que estivesse assistindo a “Má Educação-II” ao ver o mexicano com as unhas pintadas, antes de rodar a primeira cena do Rei pedi que ele encontrasse o esmalte por acaso, enquanto falava seu texto. A idéia era fazer o uso do esmalte parecer mais acidental e menos intencional. Só que ele foi muito mais longe e fez metade da cena mais concentrado no esmalte do que em seu texto"


"O vilão cruel ficou parecendo um trapalhão que havia fumado três baseados [charros], alheio ao sofrimento que estava provocando ao seu redor. Um cara mais irresponsável do que perverso e talvez por isso mesmo até mais assustador"


"Dormi mal na noite anterior. Não consegui parar de ficar organizando mentalmente tudo o que precisaria acontecer e pensando em que ordem filmar. Às 6 da manhã eu já estava no saguão do hotel. Lá fora um vento katrínico nas copas das árvores e as rajadas de chuva contra as vidraças pareciam efeito especial mal feito, de tão exagerado"

"Ouço sempre histórias de diretores que maltratam equipe e atores para conseguir o que buscam, mas infelizmente não me encaixo nesta categoria. Fico com pena de todo mundo"

As faces de Bob Dylan



Um sério candidato aos Óscares, este "I'm Not There", de Todd Haynes.

Estreia a 21 de Novembro nos EUA.

Sunday, October 7, 2007

Olha, olha...


Olha ele, sem óculos (numa estreia directa para vídeo)...


E olha quem está de volta, com a mesma peruca... (com estreia a 1 de Novembro em Portugal)


Joost agora realmente democrático


Para os leitores que ainda me pedem convites para o Joost, fiquem a saber que o programa já está disponível para TODOS! Cliquem aqui e descarreguem a versão beta 1.0. And have fun!

Saturday, October 6, 2007

"Planeta Terror": a crítica


As comparações são inevitáveis: enquanto "À Prova de Morte", de Quentin Tarantino, é um filme de personagens, exemplarmente escrito, "Planeta Terror" é um espectáculo sanguinário e esquizofrénico onde o espectador é largado à deriva, como se fosse acéfalo. Por isso mesmo, nesta "joint venture" "Grindhouse", Tarantino levou a melhor.

Sejamos sinceros: "Planeta Terror" tem sangue, pústulas, testículos e uma gaja boa com uma arma no lugar de uma perna, mas alguém se importa genuinamente com o destino dos protagonistas? Eu dei por mim, em "Death Proof", a torcer para que pelo menos uma moçoila do primeiro grupo fosse poupada e que as senhoras do segundo "round" dessem cabo do canastro a Kurt Russell com requintes de malvadez. Aliás, apeteceu-me berrar em plena sala: "Matem esse cabrão, mas façam-no sofrer antes!". Já em "Planet Terror" rezei para que tudo desembocasse num banho de pus para que a história levasse um ponto final rápido. O filme é nojento. E este foi o único sentimento que Robert Rodriguez conseguiu suscitar.

Há quem me diga que a obra de Rodriguez está mais próxima do conceito "Grindhouse" que a de Tarantino. Como o fenómeno das matinés contínuas de série B não é português, nem sequer europeu, não é um argumento que me demova da ideia com que fiquei: o segmento de Tarantino é superior. Aliás, o que a dupla de cineastas delineou não foi um decalque do Grindhouse, antes uma recriação repleta de efeitos especiais de ponta e de piscares de olhos a outros filmes. Mas, ao contrário de "Death Proof", "Planet Terror" redunda num chorrilho de lugares comuns de série B, sem ser minimamente surpreendente. Ao longo do filme, senti que não havia ali material palpável, a não ser um bando de infectados dizimados por meia dúzia de sobreviventes. Mesmo num filme de categoria duvidosa, há sempre algo de dúbio, inquietante, que troque as voltas mesmo da forma mais idiota. Mas neste "Planeta Terror" não há rigorosamente nada que provoque espanto no espectador.

O problema é que Rodriguez quis simplesmente encher o olho. Tarantino, por outro lado, "embrulhou" as mortes, criando-as soberbamente, de modo a permanecerem na retina. Enquanto o primeiro não poupou, o segundo foi inteligente ao perceber que, para que o espectador sinta, tem de ser preparado e nutrir simpatia pelas personagens.

Em abono da verdade, nem tudo é mau em "Planeta Terror": há ideias bem concretizadas (como as personagens de Rose McGowan e de Marley Shelton), algum humor hilariante e bons efeitos especiais. Falta-lhe uma certo cuidado nos diálogos e a originalidade incisiva de Tarantino. O que, de certa forma, o enfraquece por comparação. 2 estrelitas.


Thursday, October 4, 2007

O aviso de Jigsaw

"Saw IV": o novo teaser. Scary!

Tuesday, October 2, 2007

Saw IV a 20 de Dezembro


Para os muitos fãs de "Saw" que chegam ao "Movies: Confidential", uma novidade (quase) exclusiva: "Saw IV" estreia em Portugal a 20 de Dezembro (belo filme natalício...), distribuído pela LNK.

Monday, October 1, 2007

"Capacete Dourado": a crítica


Presunçoso. Esta é a melhor palavra para descrever o resultado do filme de Jorge Cramez, uma espécie de Romeu e Julieta do Corgo sem direito a clímax.

Jota, um motoqueiro rebelde "sem interior" conhece Margarida, uma anorética "sem exterior". O resto é previsível: a paixão rebenta entre os dois "outsiders", apesar dos obstáculos criados pelo pai intransigente e autoritário da jovem. "Capacete Dourado" é uma obra de clichés: nos planos (o fogo-de-artifício, o riacho em pano de fundo ou os confettis na festa resultam em qualquer filme), nos diálogos (o improviso dos jovens funciona, as conversas entre adultos soam a falso) e na capacidade risível em estereotipar personagens: o badboy, demasiado badboy, que se apaixona pela menina ingénua, impopular, chacoteada pelos colegas. Mas a falha maior está na incapacidade em criar um clímax, deixando os espectadores abazurdidos com um desfecho sem sal, demasiado escorreito, certinho, impedindo quem vê de sentir o desconforto, o murro no estômago que uma história destas merecia.

Recheado de "cameos" - Alexandra Lencastre como professora gaga, Joaquim Leitão como jogador de snooker -, o filme de Cramez funciona como uma súmula de técnicas que o realizador terá aprendido em muitas horas de visionamento de cinema, minando-lhe a originalidade. Por esse motivo, nunca consegue, esteticamente, fugir do lugar comum. A banda-sonora, que inclui "Danúbio Azul", de Strauss, mitificada no cinema por Stanley Kubrick em "2001-Odisseia no Espaço", poderia ter sido usada como tributo, mas é decalcada num jogo de motoqueiros sem grande sentido. O resto, que varia entre os Echo and the Bunnymen e a "Quero é Viver", de António Variações na voz de Camané, demonstra o bom gosto musical do cineasta, mas um tremendo desperdício ou uma vontade de incluir em quase todas as cenas a sua "cdteca" pessoal. Só por ser português, 2 estrelitas.

As inseguranças de Meirelles


"Movies: Confidential" continua a acompanhar as filmagens de "Ensaio Sobre a Cegueira" (tenho plena certeza de que o filme baseado na obra de José Saramago será um sério candidato aos Óscares e é desta que Julianne Moore arrebata a estatueta). Fernando Meirelles acrescentou mais dois posts no seu diário onde, mais uma vez, denota uma certa insegurança de cineasta consciente da efemeridade do grande ecrã perante o brilhantismo e a intemporalidade de uma obra literária. Eu estou cá para dizer a Meirelles que confio cegamente no seu trabalho e só espero que capte a essência do livro, com mais ou menos "cocó". O resto é peanuts e todos sabemos que o tempo cinematográfico consegue ser cruel.

'“Ensaio Sobre a Cegueira” permite tantas leituras que a toda hora me pego conferindo se este ou aquele viés da história estão contemplados no que tenho filmado. Cada vez que me asseguro de um ponto, outras quatro dúvidas aparecem. – “Tudo, não teremos”, dizia meu avô. Mas bem que tento. Esse é um texto que gera muitas perguntas, mas nenhuma resposta, levanta questões sobre a evolução do homem, nos faz refletir criticamente mas não aponta direções. Cada um terá que descobrir o caminho por si só. É uma história pós-moderna. Creio que por ser assim tão aberto, este livro permite que cada um o leia projetando suas próprias questões e todas as leituras parecem fazer sentido. Não é à toa que tanta gente diz ser este o seu livro favorito. Quem me dera fazer um filme com 5% desta qualidade.'

in Diário de Blindness

Sunday, September 30, 2007

Auster monumental!


Paul Auster vai estar no dia 4, no Monumental. Toca a comprar bilhetes!

Descubra as diferenças


"Funny Games", 1997



"Funny Games", 2008

Wednesday, September 19, 2007

Dois filmes Queer


Glue, de Alexis dos Santos, 2006

Lucas é um adolescente numa cidade perdida no meio do deserto. Naquele Verão, o rapaz de 16 anos anseia envolver-se com uma rapariga, mas não consegue deixar de pensar fisicamente em Nacho, o colega da banda punk rock da qual é vocalista. Os dois amigos conhecem Andrea, uma rapariga doce e introvertida que vive num lar minado pela violência verbal. Um dia, o pai de Lucas, que trai constantemente a mulher, vai jantar a casa contra a vontade do filho. Lucas decide então levar Nacho à casa vazia do progenitor e, inalada a cola, os desejos são consumados. Andrea, por seu turno, quer ser um rapaz. Têm mais piada, diz. Naquele Verão, também ela quer experimentar um beijo à francesa, que treina no vidro da banheira. Com Nacho e Lucas, os três vão descobrir-se.

O embrião deste filme, uma espécie de Gus Van Sant demaquilhado e empoeirado, cruzado com a ousadia de Larry Clark e um certo erotismo latente de Bernardo Bertolucci, era constituído por apenas 17 páginas de guião, com as coordenadas para os planos. Os diálogos são parcialmente improvisados. E, nesta estratégia que só os melhores conseguem levar avante, reproduz-se habilmente em celulóide pedaços de vida, vibrantes, por vezes silenciosos, outras vezes melancólicos. Há silêncio, sim - mas na vida também. Há sexo - assim como na vida. Há ira, revolta, frustração - assim como na vida. Mas não há artificialismos, antes uma naturalidade assombrosa, sabiamente entrecortada por dilemas de adolescentes. "Se os meus pais tivessem tido sexo cinco minutos depois, eu seria o mesmo?". Este é, na minha opinião, um dos grandes favoritos ao prémio principal do Queer Lisboa. 4 estrelitas


Boy Culture, de Q. Allan Brocka, 2006

Exe ("X") é prostituto e partilha casa com Andrew e Joey, dois homossexuais voláteis com contínuas relações e com os quais estabelece uma espécie de triângulo amoroso. Ao mesmo tempo, Exe presta os seus serviços a um homem mais velho, com o qual confidencia o seu amor por Andrew. Serão aqueles quatro homens, tão diferentes e tão semelhantes, capaz de encontrar algum conforto?

Amador. Assim é "Boy Culture" que, embora pontuado por alguns momentos divertidos (especialmente devido a uma "bicha" estereotipada, Joey) e de outros ternurentos, não consegue ser mais do que um episódio (fraco) de uma série tipo "Queer as a Folk". As interpretações são medianas e, apesar do que o título possa sugerir, não há sequer uma cena de nú. Esta pretensa comédia romântica gay, crua, recheada de clichés e tratada sem grande sentido cinematográfico, não merece mais do que... 1 estrelita

Tuesday, September 18, 2007

Nunca vi Oliveira!


Sem surpresa, a última sondagem "Movies: Confidential" reflecte a fraca adesão do público (em contraste com a da crítica) ao cinema de Manoel de Oliveira. 37 por cento dos leitores assumiram nunca ter visto na íntegra qualquer obra do "mestre". "A Caixa", "Quinto Império" e "Vou para Casa", entre outros, ocuparam os segundos lugares, com inexpressivos 13%.

O questionário que se segue, já disponível, é uma antevisão dos Óscares 2007. Os estúdios preparam lançamentos até final do ano, de forma a que os filmes possam ser considerados para a cerimónia a ter lugar em 2008. Como algumas das películas para votação ainda não estrearam em Portugal, aconselho uma pesquisa para verificarem se possuem material para a estatueta dourada. Em Março do ano que vem, recordarei se os resultados correspondem às escolhas da nem sempre imparcial Academia.

Um forte abraço,
Bracken

História do cinema gay


O documentário Fabulous!A História do Cinema Gay e Lésbico será apresentado no Queer Lisboa amanhã, quarta-feira, dia 19 de Setembro, na sala 2 do cinema S. Jorge, pelas 19 horas com a participação de Nuno Galopim e João Ferreira.
Este documentário persegue a emergência do cinema gay, desde os filmes avant-garde das décadas de 40 e 50, passando pelos que falavam da SIDA na década de 80, pelo “New Queer Cinema” da década de 90 e chegando até aos mais recentes realizadores de hoje em dia.
Fonte: Lusomundo

Jodie still rules!


"The Brave One" ("A Estranha em Mim", tradução portuguesa, mais uma para a lista das imbecis) está no primeiro lugar do box-office norte-americano, a provar que Jodie Foster ainda é um trunfo para os estúdios ávidos de receitas gordas. Neil Jordan, o brilhante realizador de "Jogo de Lágrimas" e "Breakfast in Pluto" dirige a actriz duplamente oscarizada.

Saturday, September 15, 2007

"Capacete Dourado": novo trailer


O novo trailer do promissor "Capacete Dourado", de Jorge Cramez. Estreia a 20 de Setembro.

O filme que o caso Madeleine McCann fez adiar

"Gone Baby Gone", de Ben Affleck, baseado no romance do mesmo autor de "Mystic River". O enredo demasiado coincidente com o desaparecimento de Madeleine McCann, na Praia da Luz, conduziu ao adiamento da sua estreia no Reino Unido.

Queer Lisboa já rola


Começou hoje o Queer Lisboa 11, Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, que decorre no cinema São Jorge até 22 de Setembro. Vale a pena passar por lá (bilhetes a 3 euros, 2 com desconto).

Blindness preview


A primeira imagem de Julianne Moore em "Ensaio Sobre a Cegueira" ("Blindess"), gentilmente "cedida" pelo Viciado em Cinema e TV.

Thursday, September 13, 2007

O encanto de Oh


O Fernando Meirelles que me perdoe, mas não resisto a reproduzir aqui parte do seu novo post sobre a rodagem de "Ensaio Sobre a Cegueira". O texto que se segue é um tributo: a Sandra Oh e ao carisma.


"Às vezes fico olhando para estes atores carismáticos para entender de onde vem a atração que exercem, tentando descobrir o que eles têm que nós, reles normais, não temos. A Sandra Oh (de Sideways) tem isso de sobra. Na primeira vez que a encontrei ela já havia me causado forte impressão, lembro até da cor do seu vestido (e em geral não sei dizer nem a cor da roupa que eu mesmo estou vestindo). Era azul, claro. Fomos apresentados pelo roteirista e diretor Alexander Payne, na ocasião nem sabia que ela era atriz, estávamos em Cannes e achei que ela fosse uma esposa acompanhando o marido na estréia de seu filme (All About Smith). E a esposa me impressionou.

De onde vem tamanha presença? De qualquer maneira fiquei feliz quando ela mesma pediu para fazer alguma pontinha neste filme, qualquer que fosse. Ela é canadense, grande amiga do Don McKellar, nosso roteirista, e por isso insistiu numa participação afetiva. Criamos então umas poucas linhas para a Ministra da Saúde, justificando assim sua viagem de Los Angeles até Toronto para apenas um dia de filmagem. Depois de muita negociação ela conseguiu convencer os produtores da série Grey’s Anatomy a lhe dar esse dia livre. Valeu. Com a mulher em quadro não sobra nada para ninguém. Um papel mínimo, que a princípio seria feito por um figurante, virou um papel de verdade. Esta foi a lição do dia: qualquer papel merece um grande ator (e qualquer grande ator consegue transformar um papel). "

Wes Craven ensandeceu!


Lembram-se desta inenarrável obra de pseudo-terror de Wes Craven?


Pois bem, vai haver "remake", programado para estrear em 2009. E novamente sob a batuta de Craven. Será que aquele acredita que é desta que alguém vai levar isto a sério? À terceira...

(Já agora, vejam lá se descobrem quem era o Harold Pinter do original. Uma pista: co-protagonizou uma série de culto.)

Entretanto, contemplem o que Wes Craven andou a produzir. Intitula-se "The Breed", é sobre uma matilha de cães assassinos e, na verdade, mais um tiro no pé daquele que já foi um dos autores de culto do cinema de terror e fantástico. Estreia a 10 de Janeiro de 2008 em Portugal.

Monday, September 10, 2007

China, China!

China walks down the steps towards Martim Moniz Square in Lisbon, Portugal. As she passes by, children cry out: "China, China!". China will fly. Fly away by dawn. All she wants is to be happy. But China drinks her own poison. She drinks it to the last drop. Sometimes the air seems to be laden with evil and purgatory but a child's playground.

Esta é a sinopse de "China, China", o novo filme de João Rui Guerra da Mata e João Pedro Rodrigues, realizador de "O Fantasma" e "Odete". Estreia a 13 de Setembro em Portugal.

Diário de "Blindness"


Fernando Meirelles está a escrever um diário virtual sobre a rodagem de "Ensaio Sobre a Cegueira" (Blindness), onde descreve com humor os episódios que têm marcado o projecto. Vale a pena ler, nem que seja para concluir que, muitas vezes, um realizador não é um ser omnipotente e autoritário a quem toda a máquina obedece. As inseguranças e as expectativas por vezes frustradas também fazem parte da profissão.

Sobre a contracena entre Mark Ruffalo e Julianne Moore: "Com a pausa, a Julie perdeu um pouco a emoção, mas em compensação o Mark foi encontrando seu tom. Meia hora depois da primeira tomada tudo já estava mais técnico, mais preciso, ainda que já não tão vivo. Paramos então com a minha promessa aos atores que depois de montada a cena, se precisássemos, refilmaríamos. A Julie implorou para não ter que passar pela mesma coisa novamente."

Sobre as origens do projecto: "Em junho recebi um e-mail de um produtor canadense, que eu não conhecia, me perguntando se eu já havia lido José Saramago e se teria interesse em uma adaptação de um dos seus romances. Para ser simpático respondi: manda. Três dias depois, chegou em um envelope com um roteiro em inglês. Era Blindness, o Ensaio Sobre a Cegueira.Devem existir milhares de diretores no mundo. O que fez com que aquele texto viesse cair justamente em minhas mãos? Essas coincidências são assustadoras."

Sobre Saramago: "Apesar de feliz pelo encontro, aquela noite me deixou apreensivo. Por ter sempre recusado a vender os direitos de seus livros para adaptação (“cinema destrói a imaginação”) achei que ele não estivesse interessado no filme.Para meu desespero, estava enganado. Ele está interessado sim, perguntou várias vezes quando ficaria pronto ou quando poderia assistir algo. Depois do nosso encontro, me mandou um e-mail dispondo-se a colaborar caso eu precisasse e dizendo-se totalmente confiante em relação ao nosso trabalho. Antes não estivesse tão confiante assim, o risco de uma grande decepção seria menor."

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