Friday, August 3, 2007

Português iluminou "Ratatui" !


"Na maior produtora de cinema de animação do Mundo, a Disney/Pixar, trabalha um portuense. Afonso Salcedo iluminou o universo de “Ratatui”, a última fantasia do estúdio. E não quer ficar por aqui.

Quando se sentar numa sala de cinema para assistir a “Ratatui”, filme de animação que estreia em Portugal a 15 de Agosto, atente nos brilhos, nas sombras e na luz. Detenha-se no reflexo dos copos e dos tachos, no brilho da chama do fogão, na repugnância do lixo, nas vielas sombrias de Paris, onde decorre a história. É que toda esta atmosfera, milimetricamente delineada, tem dedo português. O portuense Afonso Salcedo é um dos elementos do fulcral departamento de iluminação da Disney/Pixar, o gigante responsável por alguns dos filmes de animação mais rentáveis de todos os tempos: “Os Incríveis” e “À Procura de Nemo”, para citar os mais recentes. “Ratatui” é o último produto a sair desta fábrica de fantasia, e um dos mais aclamados do seu extenso e bem sucedido “portfolio”. Só nos Estados Unidos, já rendeu 180 milhões de euros e a crítica tem sido unânime em considerá-lo como umas da melhores obras do estúdio.

No centro nevrálgico desta indústria milionária, Afonso Salcedo é o único português a contribuir para a criação desta fábula que junta homens a ratazanas, por computador, mas a mimetizar a vida ao pormenor. Aos 28 anos, a residir em São Francisco há três, o artista demora uma hora de metro a atravessar a cidade da Golden Gate, a ponte-gémea da 25 de Abril, para abraçar um trabalho de sonho na periferia da metrópole da costa Oeste dos Estados Unidos. “Não há um único dia em que não me sinta sortudo por trabalhar aqui”, diz ao “T&Q”. A ascensão foi vertiginosa. Em Londres, onde estudou, esteve responsável por tarefas “de escravo” na produção dos mega-êxitos “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” e de “Tróia” – “uma experiência incrível”, onde travou conhecimento com gente influente da indústria. Depois, rumou a São Francisco. Sempre com a ambição de um dia atravessar as portas da Pixar. “Nunca pensei que começasse tão cedo”, admite.

Os dois “blockbusters” que trazia no currículo aguçaram a curiosidade dos patrões da produtora e rapidamente começou a trabalhar. Primeiro, nos retoques do filme “Cars” – o “rendering”, na linguagem cinematográfica”–, depois a criar os ambientes através da luz, já em “Ratatui”.“O departamento de iluminação é um dos últimos a intervir num filme de animação. Depois de criados os desenhos, as imagens passam para nós. Criamos luzes, reflexos, sombras, de forma a criar o ambiente final. Temos um director de fotografia, e eu estive sempre à beira a mostrar o trabalho. Recebemos críticas ou orientações constantes: nesta cena, temos a personagem feliz, portanto tem de estar mais colorida”, explica assim a sua função.

Há poucos empregos onde a criatividade é constantemente estimulada, e Afonso tem consciência disso. “Recebemos muitos mimos, tratam-nos bem. Somos motivados a praticar desporto, temos campo de futebol, basquete e piscina. Existe ainda a Pixar University, onde se pode frequentar aulas de cinema, arte ou cerâmica, para evoluirmos como artistas. Temos uma série de regalias para termos motivação”, diz. “E também massagens”, acrescenta, entre risos.Sendo o único português no seio de uma equipa multicultural, acabou por transformar-se num embaixador do País que já só visita uma vez por ano, “para dar um olá aos pais”. “Perguntam-me muito sobre Portugal. Amigos da Pixar já foram aí por minha causa. Sou o único português a trabalhar cá, há bastantes brasileiros e de outras nacionalidades, mas acabou por criar-se um bom ambiente de trabalho. No Mundial, juntamo-nos e estamos todos a torcer pelos nossos países. E por Portugal, claro”, conta.
De cá saiu há dez anos, depois de concluído o ensino secundário na Escola Fontes Pereira de Melo, no Porto. Bastou-lhe assistir a um filme, “O Abismo” (1989), de James Cameron, conhecido pelo inovador efeito de um tentáculo de água, criado digitalmente, para ter a certeza de que era aquilo que pretendia fazer para sempre. Depois, estudou e aperfeiçoou-se em universidades de Londres e Southampton. A saída de casa em direcção ao desconhecido não apoquentou os pais, que continuam a residir no Porto. “Sempre me apoiaram, foram a força maior”. E até já têm a noite de 15 de Agosto planeada: a família vai em grupo assistir à estreia de “Ratatui”, em Portugal.

Afonso, que já visionou a obra uma dezena de vezes, também tem ido às salas para observar a repercussão do seu trabalho. “O que eu mais gosto é de ir ao cinema e ver a reacção das crianças ao filme onde trabalhei. Como o vi várias vezes, fico habituado e não penso na reacção do espectador”.E mal pode esperar para ver o original com dobragem portuguesa. “Deve ser engraçadíssimo, conheço tão bem o filme em inglês, queria ver como é que as piadas foram adaptadas”, diz.Enquanto palmilha um longo caminho para chegar a director de fotografia, vai expondo os seus instantâneos, outra paixão, em cafés de São Francisco. Procura nas fotos “inspiração” para “desenvolver ainda mais a observacao de como a luz cria ambiente e emoções numa imagem bidimensional”, como descreve numa página da Internet onde colocou os seus trabalhos.Regressar a Portugal já é um cenário descartado. “A trabalhar em produções destas, é difícil arranjar tempo. E já não me vejo a viver noutro sítio”.

in "Tal&Qual", edição 03 de Agosto

Thursday, August 2, 2007

O "nosso" Daniel Silva em filme

Daniel Silva, autor de mais de uma dezena de best-sellers, é um dos mais aclamados escritores de espionagem da actualidade. Asseguram os críticos que está ao nível de Graham Greene e John Le Carré. E é luso-descendente. Daniel, de 44 anos, foi adoptado por um casal de imigrantes açorianos e deve ter recebido uma educação exemplar, tão provecta e elogiada é a sua actividade como escritor.

Pois bem, Dan Brown, rói-te de inveja até ao artelho. A Universal Pictures adquiriu os direitos de sete livros de Daniel Silva, para a sua adaptação cinematográfica e vai começar com "O Mensageiro". O filme será realizado por Pierre Morel, que está a terminar a rodagem de "Taken", com Liam Neeson, sobre um antigo espião obrigado a desenferrujar quando a sua filha é raptada.


Tuesday, July 31, 2007

O elogio da "fast food"


Depois de "Obrigado por Fumar", segue-se a análise a outro filme apregoado como "politicamente incorrecto". Aliás, foi este epíteto que me fez adquirir um pack Fnac com os dois filmes, por 19,90. Quem quiser comprar-mo a partir de 15 euros, estou aberto a propostas. Está novinho em folha (foi comprado este fim-de-semana) e não terá mais uso. Depois de lerem, percebem porquê.

"Geração Fast Food" ("Fast Food Nation"), de Richard Linklater, é a adaptação de uma novela de Eric Schlosser que fez meio Mundo vomitar o último Big Mac ingerido. Mas se o livro conseguiu pôr os vegans a regozijarem-se pela sua opção alimentar e até dissuadir muitos americanos de pisarem o terreno ardiloso do fast-food, já o filme sabe a pouco. Tão pouco que hoje tive de almoçar um belo Chicken Mythic. E sem culpas.

O Big One da cadeia de comida rápida Mickey's é o sucesso de vendas da empresa. No entanto, ao serem descobertos coliformes fecais (vulgo merda) nos hamburgueres, um director de marketing responsável pelo lançamento do produto é destacado para uma pequena cidade fronteiriça, onde deverá visitar a fábrica de processamento da carne. O matadouro, onde os trabalhadores quase se afogam em sangue, tripas e dejectos é-lhe vedado. Mas o que vai descobrindo através de antigos fornecedores, repugna-o. Ao mesmo tempo, duas irmãs mexicanas atravessam a fronteira e acabam a trabalhar na fábrica. Uma delas envolve-se com o duro capataz e atravessa um decadente período de toxicodependência, enquanto a outra luta por uma vida melhor. Simultaneamente, uma empregada do Mickey's percebe que a sua vida vai para além dos hamburgueres e junta-se a um grupo de teenagers ecológicos dispostos a denunciar a existência miserável a que estão sujeitos os bovinos.

O que Linklater quis fazer foi aquilo em que Alejandro Gonzalez Iñarritu é mais eficiente: o cruzamento de histórias, conferindo idêntico relevo a cada uma das suas protagonistas. E falha logo aqui: personagens dispensáveis, como a de Patricia Arquette ou de Ethan Hawke, ocupam demasiado espaço a esgrimir trivialidades, enquanto outras, como a de Greg Kinnear, são de extrema importância e desaparecem a meio sem dar cavaco. O resultado é um filme desequilibrado, muito mais interessante do ponto de vista da imigração ilegal do que do fast-food. Que alguma da carne tenha vestígios de merda de vaca, não vem daí mal ao Mundo. Como argumenta a personagem de Bruce Willis - e ficamos convencidos -, com certeza comemos a mesma porcaria no talho da maior confiança. E se um dos empregados do restaurante cospe no pão, com certeza já terá acontecido o mesmo na melhor casa de pasto lisboeta.

Se o objectivo era fazer-nos repudiar o fast-food enquanto conceito puramente economicista, não podia sair mais gorado. A carne até tem bom aspecto e o matadouro não tem pior do que aquilo que imaginamos. Se se pretendia suscitar compaixão pelos mexicanos que entregam os seus corpos e almas a inescrupulosos patrões, em trabalhos aonde mais ninguém quer pôr as mãos, é bem sucedido. Só é pena que Catalina Sandino Moreno, espantosa em "Maria Cheia de Graça", repita aqui o mesmo papel mudo, rígido e impertinente da miúda correio de droga. E que nenhuma das personagens mexicanas, claustrofobizada no meio de tantas participações especiais e estrelas - até Avril Lavigne por lá anda - tenham tempo para criar maior empatia e deixar saudades. 2 estrelitas






A morte é um grande negócio



Os corpinhos de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni ainda estão a arrefecer e já se faz negócio à conta da morte dos cineastas. A Medeia Filmes tomou a dianteira e, sendo distribuidora quase exclusiva em Portugal da obra dos dois vultos maiores da Sétima Arte, programou em tempo recorde um ciclo onde se repõem alguns dos filmes dos realizadores. Se a intuição não me falha, seguem os packs DVD em promoção e a reedição dos livros biográficos. Tudo em breve, antes que os vermes consumam a memória colectiva.

"Na semana em que o cinema perde dois dos seus mais vitais autores, Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, o cinema Medeia King, em Lisboa, repõe, em homenagem, nas sessões da meia noite, “Saraband” o último opus do cineasta sueco, e dois filmes míticos de Antonioni, “Blow-Up – História de um Fotógrafo” e “Profissão Repórter”

Em “Saraband” Ingmar Bergman volta a reencontrar as personagens que Liv Ullman e Erland Josephson personificaram em “Cenas da Vida Conjugal”, num filme que descreve como “um concerto para uma orquestra sinfónica, com quatro solistas”. Trinta anos passaram desde que Marianne e Johan se separaram. Mas quando Marianne sente que ele precisa dela, decide visitá-lo na velha casa de campo onde vive, onde vai encontrar uma família atormentada.
“Saraband” – 00h00 – dias 3, 4 e 06 de Agosto

“Profissão: Repórter", obra-prima de Michelangelo Antonioni, de 1975, junta dois magníficos actores - Jack Nicholson e Maria Schneider - numa história de suspense em que um homem tenta fugir à sua própria vida. Nicholson dá corpo a um jornalista esgotado que troca de identidade com um homem morto.
“Profissão: Repórter" – 00h15 – dias 3, 4 e 06 de Agosto

Baseado num conto de Júlio Cortazar, “Profissão: Repórter" é a história de um fotógrafo que ao deambular num parque tira uma série de fotografias de um casal que se abraça. A mulher repara e exige o negativo do filme em que Thomas, de ampliação em ampliação, descobre um crime.
“Blow Up" – 00h30 – dias 3, 4 e 06 de Agosto"

Fonte: Medeia Filmes

Sunday, July 29, 2007

"Obrigado por Fumar": Correcto?


Antes de iniciar a análise a "Obrigado por Fumar" ("Thank You For Smoking"), deixem-me avisar-vos do seguinte: a virginal Katie Holmes interpreta cenas de sexo - vestida, mas gabam-lhe as mamas durante todo o filme - e profere a expressão "foder" umas tantas vezes. Aproveitem esta oportunidade: a película, produzida em 2005, é pré-nupcial. Agora, casada com Tom Cruise e manipulada pelas estranhas regras da Cientologia, duvido que tão cedo venhamos a ver Katie em semelhantes preparos.

Adaptada do best-seller de Christopher Buckley, "Obrigado por Fumar" é uma obra que aborda a guerra (chamar-lhe-ia histeria fundamentalista) anti-tabágica, de forma politicamente incorrecta. No entanto, não poderia ser um filme mais politicamente correcto. Eu explico. A personagem principal, vice-presidente de uma associação que encomenda estudos nada independentes sobre os efeitos do tabagismo - a conclusão é inevitavelmente "não há provas que o sustentem, apenas evidências, que não são provas" -, vagueia pela história a propagandear o livre arbítrio, a escolha perante o acto de fumar. Critica-se o cinema por ter impedido que os seus peões, vulgo actores, tenham deixado de acender o cigarrinho. Mas em "Obrigado por Fumar", ninguém fuma! Vislumbra-se um filme dos anos 30 na televisão, e Aaron Eckhart a olhar desolado para o maço vazio. Nada mais, além de uns pensos impregnados de nicotina que quase o empurram para a morte.

Tecnicamente, o filme roça a perfeição: o genérico, que aproveita emblemas e pacotes de tabaco, é genial - se bem que um pouco previsível. A narração ao longo da história é pertinente, e a montagem sublime. As interpretações estão acima da média, até o "pé" Eckhart consegue imprimir graça a vender a banha da cobra, cheio de lábia e eloquência. Por outro lado, existem algumas lacunas: o encontro do "Esquadrão da Morte" (o álcool, o tabaco e as armas) resulta em diálogos ingénuos, com pouca pimenta; o drama do filho e da separação, embora conste no livro, era dispensável ou, pelo menos, poderia ser reduzido a mínimos.

Li em qualquer lado que "Obrigado por Fumar" é um filme altamente democrático, sem defender um lado concreto. Mas, para mim, é bastante claro: o governador Finisterre (William H. Macy sempre competente) funciona como vilão, ao querer colocar a etiqueta "Veneno" nos maços de tabaco, e Eckhart passa pelo bonacheirão simpático no meio de uma guerra perversa onde nem sempre o objectivo é dar-nos melhor qualidade de vida. O que não é necessariamente mau: enquanto fumador, irrita-me profundamente esta intifada contra a liberdade individual, e tomei posição logo ao início. É certo que fumar nunca é um acto individual, portanto preferia que os milhões gastos em campanha anti-tabágica fossem canalizados para outras coisas, como aperfeiçoar ou criar uma espécie de tabaco sem fumo. Para que todos possamos ser felizes.
3 estrelitas




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