"Planeta Terror": a crítica
As comparações são inevitáveis: enquanto "À Prova de Morte", de Quentin Tarantino, é um filme de personagens, exemplarmente escrito, "Planeta Terror" é um espectáculo sanguinário e esquizofrénico onde o espectador é largado à deriva, como se fosse acéfalo. Por isso mesmo, nesta "joint venture" "Grindhouse", Tarantino levou a melhor.
Sejamos sinceros: "Planeta Terror" tem sangue, pústulas, testículos e uma gaja boa com uma arma no lugar de uma perna, mas alguém se importa genuinamente com o destino dos protagonistas? Eu dei por mim, em "Death Proof", a torcer para que pelo menos uma moçoila do primeiro grupo fosse poupada e que as senhoras do segundo "round" dessem cabo do canastro a Kurt Russell com requintes de malvadez. Aliás, apeteceu-me berrar em plena sala: "Matem esse cabrão, mas façam-no sofrer antes!". Já em "Planet Terror" rezei para que tudo desembocasse num banho de pus para que a história levasse um ponto final rápido. O filme é nojento. E este foi o único sentimento que Robert Rodriguez conseguiu suscitar.
Há quem me diga que a obra de Rodriguez está mais próxima do conceito "Grindhouse" que a de Tarantino. Como o fenómeno das matinés contínuas de série B não é português, nem sequer europeu, não é um argumento que me demova da ideia com que fiquei: o segmento de Tarantino é superior. Aliás, o que a dupla de cineastas delineou não foi um decalque do Grindhouse, antes uma recriação repleta de efeitos especiais de ponta e de piscares de olhos a outros filmes. Mas, ao contrário de "Death Proof", "Planet Terror" redunda num chorrilho de lugares comuns de série B, sem ser minimamente surpreendente. Ao longo do filme, senti que não havia ali material palpável, a não ser um bando de infectados dizimados por meia dúzia de sobreviventes. Mesmo num filme de categoria duvidosa, há sempre algo de dúbio, inquietante, que troque as voltas mesmo da forma mais idiota. Mas neste "Planeta Terror" não há rigorosamente nada que provoque espanto no espectador.
O problema é que Rodriguez quis simplesmente encher o olho. Tarantino, por outro lado, "embrulhou" as mortes, criando-as soberbamente, de modo a permanecerem na retina. Enquanto o primeiro não poupou, o segundo foi inteligente ao perceber que, para que o espectador sinta, tem de ser preparado e nutrir simpatia pelas personagens.
Em abono da verdade, nem tudo é mau em "Planeta Terror": há ideias bem concretizadas (como as personagens de Rose McGowan e de Marley Shelton), algum humor hilariante e bons efeitos especiais. Falta-lhe uma certo cuidado nos diálogos e a originalidade incisiva de Tarantino. O que, de certa forma, o enfraquece por comparação. 2 estrelitas.