Dois filmes Queer
Glue, de Alexis dos Santos, 2006
Lucas é um adolescente numa cidade perdida no meio do deserto. Naquele Verão, o rapaz de 16 anos anseia envolver-se com uma rapariga, mas não consegue deixar de pensar fisicamente em Nacho, o colega da banda punk rock da qual é vocalista. Os dois amigos conhecem Andrea, uma rapariga doce e introvertida que vive num lar minado pela violência verbal. Um dia, o pai de Lucas, que trai constantemente a mulher, vai jantar a casa contra a vontade do filho. Lucas decide então levar Nacho à casa vazia do progenitor e, inalada a cola, os desejos são consumados. Andrea, por seu turno, quer ser um rapaz. Têm mais piada, diz. Naquele Verão, também ela quer experimentar um beijo à francesa, que treina no vidro da banheira. Com Nacho e Lucas, os três vão descobrir-se.
O embrião deste filme, uma espécie de Gus Van Sant demaquilhado e empoeirado, cruzado com a ousadia de Larry Clark e um certo erotismo latente de Bernardo Bertolucci, era constituído por apenas 17 páginas de guião, com as coordenadas para os planos. Os diálogos são parcialmente improvisados. E, nesta estratégia que só os melhores conseguem levar avante, reproduz-se habilmente em celulóide pedaços de vida, vibrantes, por vezes silenciosos, outras vezes melancólicos. Há silêncio, sim - mas na vida também. Há sexo - assim como na vida. Há ira, revolta, frustração - assim como na vida. Mas não há artificialismos, antes uma naturalidade assombrosa, sabiamente entrecortada por dilemas de adolescentes. "Se os meus pais tivessem tido sexo cinco minutos depois, eu seria o mesmo?". Este é, na minha opinião, um dos grandes favoritos ao prémio principal do Queer Lisboa. 4 estrelitas
Boy Culture, de Q. Allan Brocka, 2006
Exe ("X") é prostituto e partilha casa com Andrew e Joey, dois homossexuais voláteis com contínuas relações e com os quais estabelece uma espécie de triângulo amoroso. Ao mesmo tempo, Exe presta os seus serviços a um homem mais velho, com o qual confidencia o seu amor por Andrew. Serão aqueles quatro homens, tão diferentes e tão semelhantes, capaz de encontrar algum conforto?
Amador. Assim é "Boy Culture" que, embora pontuado por alguns momentos divertidos (especialmente devido a uma "bicha" estereotipada, Joey) e de outros ternurentos, não consegue ser mais do que um episódio (fraco) de uma série tipo "Queer as a Folk". As interpretações são medianas e, apesar do que o título possa sugerir, não há sequer uma cena de nú. Esta pretensa comédia romântica gay, crua, recheada de clichés e tratada sem grande sentido cinematográfico, não merece mais do que... 1 estrelita