Saturday, March 31, 2007

A trip to Arizona



Uma homenagem à mulher que encabeça este blogue: Kim Basinger em duas fotos muito pouco conhecidas.


É uma vergonha perderem isto...


Eu sei que isto não é um blogue de televisão, mas há séries que não são só geniais, como são veículos para actores e argumentistas. É o caso da bitânica "Shameless", a ser transmitida em reposição pela SIC Radical, depois de ter lido algures que a estação ia comprar uma nova temporada - se o fez, ainda não dei por isso - e que revelou dois jovens: James McAvoy, co-protagonista de "O Último Rei da Escócia" e que poderemos ver brevemente em "becoming jane", ao lado de Anne Hathaway e Julie Walters, e que teve uma participação em "Crónicas de Nárnia"; e ainda Anne-Marie Duff, que surge nas últimas cenas de "Diário de um Escândalo" e interpretou a rainha Elizabeth I numa minissérie premiada.

"Shameless" é a história de uma família disfuncional num subúrbio de Londres: o pai é um bêbedo inveterado que vai viver com uma loira agorafóbica e sado-masoquista, enquanto a filha mais velha toma conta dos irmãos, depois de a mãe ter fugido de casa para assumir uma relação com uma camionista (atenção, este não é um termo depreciativo para designar lésbicas; a rapariga encorpada é mesmo camionista).

Irónica, mordaz e quase sempre surreal, "Shameless" é uma produção pouco usual que já leva três temporadas no seu país de origem. Enquanto a SIC Radical não se digna a transmitir o que alegadamente comprou nas mipcoms, quem não viu, comece agora a fazê-lo, a partir dos primeiros episódios.

Ora vejam esta espécie de "best off".

Terror, Morte e Pragas (não, não estou a falar - só -da Hillary Swank)

Está quase a estrear, nos states, e com muita expectactiva minha...









E, com menos expectativas e com a sobrevalorizada Hillary Swank...



(Era tão porreiro que este filme fosse o fim da carreira dela...eheheheh)

Algéria rules!

Mais um filme que vale a pena uma ida ao cinema: "Dias de Glória" ("Indigènes"), nomeado este ano para o Óscar de melhor filme estrangeiro, pela Algéria. Tem estreia marcada para 24 de Maio.

O filme de Rachid Bouchareb percorreu extensa trajectória internacional, recebendo prémios do público e da imprensa especializada nos diversos países nos quais foi apresentado.

Após ser duplamente premiado no Festival de Cannes 2006, com o Prémio de Melhor Interpretação Masculina (colectivo ao conjunto de intérpretes) e o Prémio aos Valores Humanos, o filme recebeu posteriormente em França nove nomeações aos Prémios César. Em Espanha recebeu os Prémios do Público nos Festivais de Ourense, Saragossa e Valladolid, e Prémio da Imprensa no Festival Internacional de Cine Solidario de Madrid. Nos Estados Unidos foi nomeado aos Independent Spirit Awards, e finalmente confirmou seu reconhecimento com a nomeação a Melhor Filme de Idioma Estrangeiro na 79ª edição dos Óscares de Hollywood.

DIAS DE GLÓRIA trata de um tema extremamente pertinente à actualidade, relatando uma história oculta durante décadas sobre como um exército aliado recrutou a jovens nativos de suas colónias para utilizá-los como carne de canhão na II Guerra Mundial.

O filme
Quatro nativos das colónias se apresentam como voluntários ao exército francês, para lutar nos campos de batalha de África e Europa, onde além de enfrentar-se aos nazis, deverão sofrer a intolerância e o racismo de seus companheiros, seus superiores e seus supostos aliados, unicamente alimentados pelo sonho de glória e pela ilusão de viver na sua Pátria.

Uma grande produção de aproximadamente 15 milhões de euros vista por mais de 3 milhões de espectadores em França, o filme foi capaz de alterar a política social do governo francês. “Este é aquele raro filme que realmente foi capaz de mudar as coisas”, diz a revista Rolling Stone.


A imprensa comentou...
“O Cinema continua a marcar a vida real” REVISTA PREMIERE, PORTUGAL.

“Neste forte filme de guerra, o realizador faz com que realmente sinta a pressão.” ROLLING STONE, EUA.

“Com fortes imagens e ainda mais fortes emoções (..) um potente filme de guerra” HOLLYWOOD REPORTER, EUA.

"DIAS DE GLÓRIA tem um elenco de magníficos actores dos quais o realizador Rachid Bouchareb consegue arrancar uma verosimilhança impressionante."
EL PAIS, ESPANHA.

"DIAS DE GLÓRIA transpira convicção e põe as coisas em seu lugar“
LA VANGUARDIA, ESPANHA.


Friday, March 30, 2007

Volta, Body Rice!

Que tal fazermos pressão para que a Medeia Filmes reponha "Body Rice"? A crítica estrangeira não tem sido indiferente a esta primeira obra de Hugo Vieira da Silva, nem as revistas da especialidade. Mas a exibição, lamentavelmente, passou tão despercebida...



Uma notícia fresquinha:


BODY RICE, a primeira longa metragem de Hugo Vieira da Silva, produzida por Paulo Branco, acaba de receber os maiores elogios da VARIETY, a mais importante publicação de referência na indústria do cinema, após ter sido recentemente distinguida com o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cinema Contemporâneo da Cidade do México.
BODY RICE é apontado pela VARIETY como uma “arrojada transição” do realizador Hugo Vieira da Silva das curtas-documentário para a longa metragem de ficção, com “planos de movimento magnificamente coreografados”, numa notável “firme suspensão de julgamento relativamente aos estilos de vida apresentados e uma absoluta negação do propósito social e psicológico do próprio lugar”. O filme “alterna entre passagens de pura fruição e absoluta gravidade” (…) com uma banda-sonora de raro poder sónico.”
O filme despertou, primeiramente, a atenção internacional aquando da passagem na competição internacional do Festival de Locarno de 2006 onde imediatamente foi galardoado com a menção especial do Júri pela sua “inovadora expressão cinematográfica e corajosa criatividade” seguida de inúmeras participações em festivais internacionais de renome (desde Roterdão a Hong Kong), conquistando desde então críticos e público através da sua atmosfera marginal e única, culminando recentemente na estreia nacional em Janeiro.



Lynch: Final Cut



Eis o que faltava da entrevista de David Lynch à Les Inrockuptibles. Divirtam-se.



Uma pergunta provocadora: qual é o sentido de INLAND EMPIRE?
(risos)… Ora aí está uma pergunta muito má! Apetece-me virá-la: e na sua opinião?
O filme está acabado, está aí. Trabalhei nele durante três anos, até que achei que estava terminado. Em seguida, pertence a quem o vê. Mas reconheço que certos filmes são mais fáceis que outros. Ao mesmo tempo, a linguagem do cinema permite-nos contar e compreender as coisas por processos diferentes. Há a compreensão intelectual e a compreensão emocional.
Os grandes poetas são capazes de transmitir as emoções com palavras por vezes muito abstractas. É igual no cinema. Um filme é um fluxo de tempo, de sons e imagens entrançados juntos. De facto, aproxima-se mais da música do que das palavras, mas é ainda mais que a música. E esse fluxo cria uma magia por vezes difícil de pôr em palavras.
Justamente, ao ver INLAND EMPIRE, dizemo-nos que o processo de escrita de um filme assim é muito misterioso. Contrariamente ao que se poderia pensar, eu quase não improvisei nada durante as filmagens. Bem, um bocadinho, mas em proporções mínimas. Vocês sabem, eu acredito nas ideias. De vez em quando, apanhamos uma ideia pela qual nos apaixonamos. Quando isso acontece, o essencial do trabalho está feito, é verdade! No caso de INLAND EMPIRE, escrevi esta ideia no papel, escrevi muitas cenas, e se as ligássemos umas às outras, obteríamos aquilo a que se chama um guião. A partir daí, um projecto mais vasto que a minha ideia inicial emergiu. Essa ligação entre as cenas apareceu-me durante as filmagens, enquanto que normalmente acontece durante a escrita.




Quando escreve uma cena, descreve uma tonalidade geral, ou escreve cada detalhe, cada elemento de décor, o sítio da câmara, etc..?
O sítio da câmara certamente que não. Para mim o processo de escrita serve sobretudo para não me esquecer das minhas ideias. O que escrevo, normalmente, é um local, eventualmente a atmosfera, as personagens e o diálogo. E mais nada. Chega-me para me lembrar da minha ideia. E quando filmo, tento transcrever o mais próximo possível a minha ideia. Vou-lhes dar um exemplo: um actor diz uma linha de diálogo, e não me parece conforme com a minha ideia. Então discutimos, o actor rediz o diálogo, e até que uma lâmpada imaginária se acenda por cima da cabeça do actor e que ele consiga dizer o diálogo de acordo com a minha ideia. E conseguimos sempre.



A sua relação de trabalho com Laura Dern foi de actriz/realizador, ou a Laura contribuiu para a construção da personagem, no estado da escrita por exemplo?
Como eu digo, as ideias vêm, e é uma questão de lhes permanecer fiel. A Laura e eu discutimos muito sobre o filme, e muitas vezes eu dizia-lhe: "Eu não sei o que acontece depois, não sei o que significa esta cena, não sei isto ou aquilo." Mas quando nos concentrávamos na cena, já sabia o que fazer e como fazê-lo. Controlava as peças uma a uma, mas não o conjunto.
Em cada cena, discutíamos até que Laura apanhasse a minha ideia e acendesse a cena.
Depois, o seu trabalho consistia em encarnar as minhas ideias e torná-las reais, credíveis, a um nível profundo. É uma grande actriz.



Como todos os seus filmes, INLAND EMPIRE é rico em personagens secundárias estranhas e memoráveis, como a velha senhora que vem tomar chá a casa de Laura Dern.
É Grace Zabriskie, que vocês já viram em Twin Peaks onde ela representava a mãe de Laura Palmer. É também ela que ajuda a matar Harry Dean Stanton em Coração Selvagem. Ela pode ser muito inquietante. É uma dessas actrizes pouco conhecidas mas que trabalham constantemente. Gosto da Grace e acho que ela é capaz de representar tudo e mais alguma coisa.


Como Mullholand Drive, este filme tem em parte Hollywood como tema. Pode parecer paradoxal enquanto você está cada vez mais separado da indústria Hollywoodiana.
Talvez seja devido ao meu fascínio pela velha Hollywood. Gosto de Los Angeles porque aí coexistem vários estados históricos. A idade de ouro de Hollywood ainda se encontra viva, presente. Com certeza, esses rastos da velha Hollywood são cada vez mais raros, cada vez mais cobertos pelo tempo, mas estão lá, como um perfume que flutua no ar ambiente. Tenho esse fascínio pela idade de ouro dos estúdios e pela magia que eles criaram.


Como explica que um apaixonado pela história de Hollywood já não possa encontrar o seu lugar lá hoje em dia?
Eu já não tenho o meu lugar em Hollywood, mas encontrei uma casa de substituição tão boa em França, onde as pessoas pensam apenas no que pode ou o que deve ser um filme. A França é a grande protectora da noção de cinema de autor, de protectora de arte. É tão importante. A única coisa que me desilude aqui, é que vocês vão seguir os outros países e vai ser também proibido fumar. Francamente deprime-me. Essa corrente que começou na Califórnia é verdadeiramente lastimável.


Porquê ou como se cruzou com a cidade de Lodz, na Polónia?
Fui lá para um festival. É uma cidade de cinema, há lá uma escola célebre. Mas é também uma cidade industrial e adoro isso! Tirei muitas fotografias das fábricas de Lodz…
Mas também gosto da arquitectura do centro da cidade, especialmente no Inverno. A luz do Inverno é formidável lá, as nuvens são muito baixas e cinzentas, e misturam-se com a cidade.


A atracção poética ou arquitectural de Lodz era a sua única motivação, ou estava interessado também pela sua história, marcada pelo comunismo e pelo nazismo?
As minhas ideias para as cenas situadas em Lodz não estavam especificamente ligadas com a História, mas carregavam com elas uma tonalidade escura, inquietante, que talvez esteja ligada inconscientemente ao passado da cidade. Mas há também outra coisa que me marcou na Polónia desde a minha primeira viagem: está a chegar uma nova geração, muito mais optimista que as anteriores. O comunismo acabou. A Polónia é um país livre, e as pessoas sentem isso, embebem-se desse sentimento novo.


Como todos os seus filmes, INLAND EMPIRE impressiona pela minúcia nos detalhes sensoriais, na imagem, mas talvez ainda mais no som. Temos a sensação que vai ainda mais longe nessa direcção da sensação pura, por exemplo alterando a textura de uma voz no decorrer de uma sequência.
A minha motivação primária, digo-o mais uma vez, é permanecer fiel às ideias. A linguagem de um filme é imagem e som desfiando juntos. Do lado da imagem, não filmo enquanto o que estiver à frente dos meus olhos não me parecer bem, em termos de luz, do aspecto do local, etc. Depois, os actores começam a falar, apercebemo-nos de que há mil maneiras de pronunciar um frase ou uma palavra. A textura de uma voz, o diálogo devem soar justo aos meus ouvidos. Hoje mais que nunca, a qualidade de uma voz pode ser manipulada a gosto. É um trabalho importante e muito delicado. Depois, é igual com todos os sons: existem mil combinações, mas só há uma, ou talvez duas, que se fundem perfeitamente com os outros elementos do filme ou da cena. Os barulhos de passos, as aberturas ou fechos de portas por exemplo: se não soarem certos, esses barulhos podem arrumar com uma cena. Depois, há os sons abstractos, que se aproximam da música, por exemplo o som de uma presença invisível numa sala ou da circulação automóvel. Finalmente, há a música. Todos esses sons podem nadar juntos numa bela harmonia ou numa bela dissonância, mas é necessário muito trabalho e experiências para chegar a um bom resultado. Robert Altman era um grande experimentador do som.


Considera-se um cineasta experimental?
Talvez. Mas um cineasta experimental é o quê ao certo? Não faço ideia. Tenho ideias, tento concretizá-las pelo cinema. Mas não vejo em que seria diferente no caso de um filme com um argumento clássico. O cinema experimental, a meu ver, seria quando o cineasta não conhece e
não domina nada e se põe a filmar o que lhe passa pela cabeça ou à frente dos olhos, e depois, vê o que dá na montagem. Mas até nesse caso, eu não estaria certo da etiqueta. Até nem tenho a certeza que qualquer um possa fazer um filme que ninguém compreenda. Existem tantas possibilidades, combinações, na vida, que permitem quebrar os códigos normativos. O cinema deve poder explorar e mostrar essas possibilidades, mas não considero essa fórmula experimental.


Tem consciência do seu estatuto único, o de um cineasta totalmente livre na sua criação mas à vontade financeiramente, tanto pessoalmente como para produzir as suas obras?
Nós somos todos livres, incluindo aqueles que trabalham para os estúdios. Basta querer essa liberdade e tomá-la. Mas há uma coisa terrível, que é quando alguém contrata um realizador e depois o impede de fazer o filme como ele quer. Cada realizador, cada criador tem como que uma lâmpada de vida, de luz e criatividade nele. Esse tipo de coisas podem fazer a lâmpada explodir. Por outro lado, se está num desses sistemas de estúdios, e um director lhe pede delicadamente: "seria possível recompor isto ou aquilo?", então é outra conversa. A ideia dos directores do estúdio pode ser boa, até aos olhos do realizador. Uma ideia é uma ideia, pouco importa de onde vem. Essas ideias são normalmente motivadas por considerações de marketing. As ideias vindas de considerações comerciais são um horror para mim. O Dino (De Laurentiis) tinha o final cut de Dune. Quase morri por causa disso. E nunca mais quero reviver uma experiência dessas.


Faz muita meditação transcendental. Do que se trata exactamente?
Há muitas formas de meditação. A palavra transcender é a chave da meditação transcendental. É uma técnica mental, que permite a cada ser humano lá mergulhar. E quando mergulhamos, podemos experienciar alguns níveis de consciência, passar para lá do ego, e "transcender" para atingir os níveis mais profundos da existência. O que a ciência moderna chama de "campo universal", a ciência védica chama atma, o eu mesmo, o ser puro. Esse campo tem na verdade montes de nomes: a totalidade, o absoluto, a inteligência criativa, a beatitude, a energia pura, o amor universal, a sabedoria total…


É o quê, mergulhar?
Mergulhar em si. Dão-vos um mantra. Um mantra é um som, uma vibração, um pensamento. Senta-se confortavelmente, fecha os olhos, e repete- mentalmente esse mantra. E, pouco a pouco, parte para longe.


Quanto tempo dura? Uma hora?
Transcende desde os primeiros minutos. Quando transcende, encontra uma experiência que desejaria ter tido toda a vida. Em francês, chamamos a isso a "beatitude". Em inglês, é o "bliss". É a alegria física, mental, emocional e espiritual. É poderoso! E isso existe potencialmente em cada um, se conseguirmos atingi-lo. Existe uma técnica para isso, dada pelo maharashi. É um simples veículo para o transportar para a beatitude, como apanharia um avião para Nova Iorque. Mas a beatitude não é um local geográfico, ela está "aqui, ali e em todo o lado" como cantavam os Beatles, "Here, There and Everywhere", veio-lhes do maharashi. É portanto uma técnica que permite desvelar todas as potencialidades de um ser. É tudo. Aprender e conhecer essa técnica, é a iluminação, a iniciação. Temos todos um potencial gigantesco.


Esse tipo de meditação ajuda-o então a desenvolver o seu potencial e a fazer os filmes que faz?
Sim. Se for um homem de negócios, ajuda-o ao dar-lhe mais ideias, mais energia, mais alegria interior. Ajuda a olhar para uma árvore, a ter mais prazer a andar, a falar… E a meditação contribui para afastar os aspectos negativos da sua vida. Eu estava cheio de raiva por causa do meu primeiro casamento. Duas semanas depois de ter começado a meditar, a minha primeira mulher veio-me perguntar: "O que é que se passa? – O que queres dizer? – Essa raiva, como fizeste para a expulsar?" Eu não me tinha apercebido que se tinha dissipado!


E se lhe disséssemos que é preferível guardar a sua raiva e permanecer o próprio? Não tem medo de perder a sua personalidade?
Pelo contrário, tornamo-nos ainda mais nós próprios. Quando pensa em sentimentos tais como a raiva, o medo, o ódio, a depressão, o desgosto, a tensão, apercebe-se que não são boas ferramentas para um cineasta. Esses sentimentos são um entrave à criatividade. Quando estamos deprimidos, nem sequer podemos sair da cama, então como poderíamos criar?
Mas essa alegria não é um impasse de tolice, é uma beleza espessa que permite apreciar e compreender melhor a condição humana. Eu "transcendo" vinte minutos de manhã, vinte minutos à tarde, e tudo melhora. Uma outra analogia do nível da consciência atingido pela meditação é o "tesouro". É como se entrasse na vida com um montante determinado nos bolsos. É absurdo para mim dizer "vou-me contentar com esta quantia" enquanto existe uma técnica que permite mergulhar em si e atingir o "tesouro". E nesse "tesouro", as quantias são ilimitadas! Normalmente, sofremos a trabalhar, a criar, e somos recompensados quando o trabalho está acabado. Com a meditação, trabalhar torna-se num prazer, e se falharmos, não ficamos devastados por isso. Ganhamos tanto gosto a criar, a fazer, que a qualidade do resultado ou o olhar de outros sobre o resultado importam menos.






Entrevistas por
Jean Marc Lalanne e Marcus Rothe Les Inrockuptibles
Serge Kaganski Les Inrockuptibles


"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"


"Sinal de Alerta", que estreou ontem nas salas portuguesas, venceu os Bafta escoceses e a sua realizadora, Andrea Arnold, foi considerada revelação de 2007 pelo certame britânico. Mesmo assim, poucos terão ouvido falar sobre este "red road". A ausência de promoção desta belíssima primeira obra é lastimável.


A viúva Jackie (Kate Dickie) é operadora numa espécie de panóptico de onde vigia uma Glasgow sombria e decadente através de câmaras instaladas nas ruas. Um dia, enquanto observa as torres de dezenas de andares e as respectivas redondezas, depara com um rosto que lhe parece familiar. O zoom sobre aquele homem em particular vai empurrá-la para uma espiral obsessiva e pantanosa, e colocá-la em confronto directo com o passado.


De uma crueza avassaladora, quase desprovido de banda sonora, "Sinal de Alerta"parte lentamente e embarca o espectador na viagem pessoal de uma mulher disposta a apagar fantasmas. A certa altura, o espectador é sentado à força na sala de controlo de Jackie, seguindo de perto o rondar da protagonista, a sua incursão por bairros violentos e até na sua própria intimidade. A câmara está omnipresente, tão omnipresente que os sentimentos de quem assiste oscilam ao ritmo dos da personagem: nojo, náusea, piedade, perdão.


Irrepreensivelmente escrito por Andrea Arnold, o argumento deste drama encapotado de "thriller" mostra sem explicar. Aliás, mostra sem desmascarar. Os diálogos minimais - embora bem doseados - não nos permitem conhecer as intenções daquela mulher senão na recta final. Introspectiva, silenciosa, Jackie exprime o essencial. E essa contenção aprisiona o espectador nas suas próprias especulações. Podemos ver, tal como ela no seu "Big Brother", mas não podemos saber. Podemos tentar adivinhar, mas só afortunadamente iremos acertar. E o que é superficial à vista, todos sabemos, raramente corresponde à profundidade da alma.

Wednesday, March 28, 2007

Pedofilia, musa inspiradora


Já repararam na quantidade de filmes que já estrearam ou em vias disso, em que o tema central ou desencadeante é o abuso sexual de menores?


Alguns exemplos: Notes on a Scandal, Little Children e Hounddog, este último por estrear e que já gerou polémica pela sequência em que a pequena Dakota Fanning é violada.

Tuesday, March 27, 2007

Estreias que merecem o destaque


Em breve:


1. Dot.com, de Luís Galvão Telles, a 5 de Abril;

2. Número 23, de Joel Schumacher, a 12 de Abril;

3. Sexualidades, de Pernille Fischer Christensen, a 12 de Abril;

4. Sinal de Alerta, de Andrea Arnold, a 29 de Março

Imperdíveis e ainda em exibição


Selecção de cinco filmes a não perder e que ainda estão nas salas portuguesas, julgo que por pouco tempo. A ordem é aleatória.


Diário de Um Escândalo (Notes on a Scandal) - Nem vale a pena assegurar que Judi Dench e Cate Blanchett em duelo crescente é uma razão forte para ver este filme do mesmo realizador de "Iris", também ele protagonizado por Dame Dench. É certo que juntar duas das melhores actrizes da actualidade não compõe a jarra, mas o argumento bem alinhavado e algumas cenas emocionalmente cortantes ajudam à fruta. 3 estrelitas.


Pecados Íntimos (Little Children) - É redutor apelidá-lo de "Donas de Casa Desesperadas em versão crua". O filme do mesmo autor de "Vidas Privadas" contempla a vida de um quarteirão de subúrbio, interligando personagens marginais pelas mais variadas razões, sem a fantasia ou o sarcasmo escarrapachado da série televisiva. E é também um poderoso estudo sobre os efeitos da histeria colectiva provocado pelos receios da pedofilia. 4 estrelitas


Babel (Babel) - Goste-se ou não do estilo de Iñarritu, a verdade é que a dimensão das suas narrativas ultrapassa os quatro cantos do rectângulo do cinema. Naquilo que parece o encerrar de uma trilogia, iniciada com "Amor Cão", o mexicano volta ao "efeito borboleta", com repercussões à escala planetária. Pode parecer forçado, mas a subtileza do seu trabalho está presente em cada cena. Um aplauso especial para a conterrânea Adriana Barraza, nomeada para um Óscar. 5 estrelitas


O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno) - Uma "Alice no País das Maravilhas" dark, fantasmagórica, onde a realidade é tão brutal e cruel como a fantasia. Não há refúgios para esta Alice tão pressionada pelo Fauno e pela ampulheta como pelo padrasto e pelo regime franquista. A única diferença é que o medo perde-se na fantasia. Brilhantes interpretações, reconstituição histórica e efeitos visuais. 4 estrelitas


A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen) - Venceu, e justamente, na categoria de melhor filme estrangeiro, mesmo com a aguerrida concorrência de "O Labirinto do Fauno". Poder-se-ia chamar "Pecados Íntimos" este filme sobre a vigilância omnipresente da Stasi alemã e a redenção de um homem que, imaginando-se Deus nessa observação diária, deixa-se cair por aquilo que é: homem. 5 estrelitas

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