Sunday, August 26, 2007

"Mysterious Skin": Cá dentro (crítica)


"Mysterious Skin", um triunfo do cinema independente norte-americano, incomoda, perturba, cola-se-nos à pele e teima em descolar-se. Uma história sobre a perda da inocência, obrigatória para quem está farto das obras acéfalas que povoam as salas portuguesas nesta altura do ano.

Neill McCormick, de oito anos, é seduzido e abusado sexualmente pelo seu treinador de basebol, em Hutchinson, Texas. Aquela circunstância empurra-o para uma espiral destrutiva: aos 15 anos, começa a prostituir-se, sem que a mãe alcoólica e alienada conheça esta vida dupla. Brian, da mesma idade, acorda na cave da sua casa, a sangrar do nariz. Eclipsa aquelas cinco horas da sua vida, e acredita durante anos que foi abduzido por extra-terrestres. Na busca pela verdade, Brian decide reconstituir aqueles momentos decisivos, conduzindo-se a Neill. O encontro entre ambos, já na adolescência, vai mudar as suas vidas.

Filmado cronologicamente, de anos a anos, meses a meses, "Mysterious Skin" é uma história de duas reacções sobre o mesmo evento. Embora aparentemente díspares, uma mais fantasiosa, outra realista, uma mais sexual, outra assexuada, ambas causam o mesmo dano: aqueles rapazes são incapazes de direccionar a sua vida para algo de frutuoso, e a ferida está permanentemente aberta.

Complexo e emocionalmente desafiador - o espectador vê-se a oscilar entre a repulsa e a compaixão -, este drama de personagens surte o efeito sugerido pelo seu título: a pele é apenas um invólucro que esconde mistérios internos, segredos, cicatrizes, conflitos sem solução. E essas mazelas são capazes de controlar o rumo da nossa vida. "Quem me dera conseguir apagar parte do passado", desabafa uma das personagens.

"Mysterious Skin" não é fácil de digerir. Por isso, aconselha-se para este filme de Gregg Araki uma maturidade suficiente para suportar com a ligeireza possível sequências de abuso sexual de menores, prostituição masculina, violação ou diálogos perversos. Não são gratuitos, mas necessários. Nunca explícitos, sempre sugestionados. Mesmo assim, não é fácil para muita gente, a atestar pelas reacções idiotas na sala de cinema onde assisti a este filme. 4 estrelitas


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