Tuesday, July 31, 2007

O elogio da "fast food"


Depois de "Obrigado por Fumar", segue-se a análise a outro filme apregoado como "politicamente incorrecto". Aliás, foi este epíteto que me fez adquirir um pack Fnac com os dois filmes, por 19,90. Quem quiser comprar-mo a partir de 15 euros, estou aberto a propostas. Está novinho em folha (foi comprado este fim-de-semana) e não terá mais uso. Depois de lerem, percebem porquê.

"Geração Fast Food" ("Fast Food Nation"), de Richard Linklater, é a adaptação de uma novela de Eric Schlosser que fez meio Mundo vomitar o último Big Mac ingerido. Mas se o livro conseguiu pôr os vegans a regozijarem-se pela sua opção alimentar e até dissuadir muitos americanos de pisarem o terreno ardiloso do fast-food, já o filme sabe a pouco. Tão pouco que hoje tive de almoçar um belo Chicken Mythic. E sem culpas.

O Big One da cadeia de comida rápida Mickey's é o sucesso de vendas da empresa. No entanto, ao serem descobertos coliformes fecais (vulgo merda) nos hamburgueres, um director de marketing responsável pelo lançamento do produto é destacado para uma pequena cidade fronteiriça, onde deverá visitar a fábrica de processamento da carne. O matadouro, onde os trabalhadores quase se afogam em sangue, tripas e dejectos é-lhe vedado. Mas o que vai descobrindo através de antigos fornecedores, repugna-o. Ao mesmo tempo, duas irmãs mexicanas atravessam a fronteira e acabam a trabalhar na fábrica. Uma delas envolve-se com o duro capataz e atravessa um decadente período de toxicodependência, enquanto a outra luta por uma vida melhor. Simultaneamente, uma empregada do Mickey's percebe que a sua vida vai para além dos hamburgueres e junta-se a um grupo de teenagers ecológicos dispostos a denunciar a existência miserável a que estão sujeitos os bovinos.

O que Linklater quis fazer foi aquilo em que Alejandro Gonzalez Iñarritu é mais eficiente: o cruzamento de histórias, conferindo idêntico relevo a cada uma das suas protagonistas. E falha logo aqui: personagens dispensáveis, como a de Patricia Arquette ou de Ethan Hawke, ocupam demasiado espaço a esgrimir trivialidades, enquanto outras, como a de Greg Kinnear, são de extrema importância e desaparecem a meio sem dar cavaco. O resultado é um filme desequilibrado, muito mais interessante do ponto de vista da imigração ilegal do que do fast-food. Que alguma da carne tenha vestígios de merda de vaca, não vem daí mal ao Mundo. Como argumenta a personagem de Bruce Willis - e ficamos convencidos -, com certeza comemos a mesma porcaria no talho da maior confiança. E se um dos empregados do restaurante cospe no pão, com certeza já terá acontecido o mesmo na melhor casa de pasto lisboeta.

Se o objectivo era fazer-nos repudiar o fast-food enquanto conceito puramente economicista, não podia sair mais gorado. A carne até tem bom aspecto e o matadouro não tem pior do que aquilo que imaginamos. Se se pretendia suscitar compaixão pelos mexicanos que entregam os seus corpos e almas a inescrupulosos patrões, em trabalhos aonde mais ninguém quer pôr as mãos, é bem sucedido. Só é pena que Catalina Sandino Moreno, espantosa em "Maria Cheia de Graça", repita aqui o mesmo papel mudo, rígido e impertinente da miúda correio de droga. E que nenhuma das personagens mexicanas, claustrofobizada no meio de tantas participações especiais e estrelas - até Avril Lavigne por lá anda - tenham tempo para criar maior empatia e deixar saudades. 2 estrelitas






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