O Gato e a Branca

Com a morte do rei de "Bué, Bué Longe", Shrek vê-se obrigado a procurar o digno substituto para o reino encantado que, mesmo não sendo o sucessor directo do pai de Fiona, terá melhores capacidades que um desajeitado ogre para gerir tão vasto e arranjadinho território. Mas a demanda do pouco escrupuloso "Príncipe Charmoso" pelo trono vai reunir os vilões das fábulas e histórias infantis contra os delicados protagonistas que sempre tiveram direito ao "e viveram felizes para sempre".

Este "Shrek" é de facto, e como indica o título, apenas o terceiro. Não há grandes novidades, a história é simples, formulaica, e assiste-se a um retorno de situações anteriores e das habituais alusões a filmes como "Os Anjos de Charlie". É certo que o argumento não é inspirado e as personagens deliciosas, como a vaidosa Branca de Neve, não são suficientemente desenvolvidas, mas esta sequela cumpre o objectivo de entretenimento. Se algumas das piadas são secas e exaustas, outras conduzem mesmo à gargalhada, à semelhança dos filmes anteriores.

"Shrek, o Terceiro" peca pelo excesso de intervenientes e por cunhar a saga animada de "soap opera". Depois das birras dos primeiros encontros, temos o namoro, o casamento e os filhos e como diz o "Burro" na recta final, "cheira-me a Shrek Júnior". Depois disto, talvez um divórcio ou netos, mas a mim cheira-me mesmo que vêm aí os "spin offs": o "Gato das Botas", brilhante interpretação de Antonio Banderas, já está na forja. E, quanto a mim, a Branca de Neve também poderia regressar, adornada por aves canoras ou a surrar brutamontes. Sem borrar a maquilhagem, claro. 2 estrelitas

Preciosidade

"Taxidermia", um curioso filme húngaro que segue três gerações de homens, incluindo um obeso especialista em "corridas" de comezainas, um embalsamador de gatos gigantes e um outro que cospe fogo do pénis, concorreu ao Grande Prémio do Fantasporto e, boas notícias para todos os cinéfilos, tem distribuição assegurada em Portugal, pela Lusomundo. Check the trailer...

Última oportunidade!

Para quem perdeu os melhores filmes do ano, não vale a pena ficar a carpir. Por cortesia da Medeia/Atalanta, vão ser exibidos, no cinema Nimas, em Lisboa, as mais belas obras cinematográficas estreadas em Portugal entre Junho de 2006 e Junho deste ano. Com um preço único de 3,5 euros por sessão.

Das dezenas de filmes que vão passar, destaco os que perdi e que quero ver:

1. "Uma Verdade Inconveniente", de Davis Guggenheim, quarta e quinta, 27 e 28 de Junho

2. "Marie Antoinette", de Sofia Coppola, terça, 10 de Julho;

3. "Transe", de Teresa Villaverde, sexta, 13 de Julho;

4. "Obrigado por Fumar", de Jason Reitman, domingo, 22 de Julho;

5. "A Ciência dos Sonhos", de Michel Gondry, segunda, 23 de Julho;

6. "Body Rice", de Hugo Vieira da Silva, terça, 7 de Agosto;

7. "Inland Empire", de David Lynch, terça e quarta, 28 e 29 de Agosto.

Para terminar, uma sugestão: o sítio onde podem encontrar todas as novidades sobre os festivais e produções europeias.

500% Kitano

Takeshis', de Takeshi Kitano, estreia a 30 de Agosto em Portugal.

Em alusão (ou gozo) aos seus inúmeros alter-egos cinematográficos, o actor-realizador-argumentista-produtor japonês Takeshi Kitano realizou em 2005 este "Takeshis'", sobre um actor proeminente, Beat Takeshi, que conhece um sósia chamado Mr. Kitano, ele próprio um aspirante à arte da representação. Este encontro vai desencadear violentos e surreais acontecimentos no percurso do primeiro.

Brain Questions

Em resposta ao repto do brain-mixer...

O que é para ti um MAU filme?

O que promete e não cumpre; o que não sabe aproveitar uma excelente premissa; o que tem mais fogo-de-artifício do que emoção; o que é descarada e pretensiosamente produzido a pensar nos Óscares; o que simplesmente ignora os pequenos momentos do quotidiano; o que para atingir os fins, descarta os meios; o que tem actores de segunda e uma história de terceira; os que têm a Hillary Swank ou a Charlize Theron demaquilhadas para ganharem a estatueta; os que, como já alguém disse, têm Steven Seagal aos pontapés; os que parodiam os outros pela piada fácil.

Remakes ou sequelas: Havendo apenas estas duas escolhas sem opção de recusa, qual assistirias?

"Remakes", por que conseguem ser outros filmes e, não raras vezes, melhores que o original. As sequelas só servem para acrescentar personagens, adicionar situações patéticas e encher ainda mais os bolsos aos estúdios.

Que tipo de filme português gostarias de ir ver ao cinema?

"Thrillers" inteligentes. O estripador de Lisboa, as superstições do interior do País (as cobras que são atraídas pelo leite materno, por exemplo), os monstros dos Descobrimentos, os raptos de miúdos, o "serial killer" de Santa Comba Dão, o processo Casa Pia... temos tanto e tão bom material.

Que cliché cinematográfico já não tens pachorra para ver novamente?

Tantos: o da mamalhuda que cai quando é perseguida pelo assassino, o do final explicadinho até à exaustão em "flashbacks", a morena que é a cabra e a loira a vítima...

Qual o teu fan video preferido?

Não ligo a fan videos. Mas o trailer do "Cellular" que alguém produziu reúne duas divas: Kim Basinger e Nina Simone. Não podia haver melhor combinação.

A quem desafias este questionário?

Viciado Cinema e TV (A Sequela)

Grandes Planos

My Asian Movies

Inter-Arte

"A Criatura" a 9 de Agosto

Quando já perdia a esperança, eis que "The Host: A Criatura", estreia em Portugal a 9 de Agosto após arrasar na Coreia, onde bateu recordes históricos de bilheteira, convertendo-se num dos filmes coreanos de maior êxito internacional. Com premiados efeitos especiais do estúdio The Orphanage ("Piratas das Caraíbas", "Superman Returns" e "Harry Potter e O Cálice De Fogo"), o filme tem a realização de Bong Joon-Ho, premiado como Melhor Realizador no festival Fantasporto 2007. No dia de sua apresentação no festival a imprensa publicava: “Fantas Revela Hoje o Melhor Novo Monstro do Século”.

The Host foi um dos filmes seleccionados para a exclusiva Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, recebeu 6 Korean Film Awards, entre eles de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhores Efeitos Especiais, e conquistou na Catalunha, no Festival de Cine Fantástico de Sitges, o Prémio de Melhores Efeitos Especiais e Prémio Orient Express-Casa Ásia de Melhor Filme. A New York Magazine foi taxativa – “Um dos melhores filmes de monstro já realizados”.

O FILME
Os habitantes de Seur observam surpresos à plena luz do dia um estranho objecto pendurado na ponte do rio Han. Na realidade, trata-se de uma monstruosa criatura mutante, que ao despertar começa a atacar as pessoas em seu redor. Um dono de quiosque à beira-rio contempla horrorizado a captura de sua filha pelas garras do monstro. Enquanto o exército se empenha em caçar a criatura, este homem simples de muita coragem e a sua família decidem empreender uma caçada por sua própria conta, na esperança da sobrevivência da miúda.

A imprensa comentou...

“Fantas revela o melhor novo monstro do século” JORNAL DE NOTÍCIAS, PT.
“Nota de louvor para os efeitos especiais produzidos” PORTUGAL DIÁRIO, PT.
“Nunca houve um filme de monstros como THE HOST” VARIETY, EUA.
“O mais excitante e divertido filme de monstros em anos” LA WEEKLY, EUA.
“Sensacional… Um verdadeiro escândalo”, THE NEW YORK TIMES, EUA.
“Um dos melhores filmes de monstros já realizados” NEW YORK MAGAZINE, EUA.
“Ao nível de Tubarão”, AINT’T IT COOL NEWS, EUA.
"Extremo e evocando Tubarão, Alien e Godzila juntos, THE HOST é um MONSTRO" BBC, UK.
“O pior: absolutamente nada” FOTOGRAMAS (REVISTA PREMIERE), ESPANHA.
"Um antes e depois no cinema de monstros" EL MUNDO, ESPANHA.
Fonte: Notro Films

Sugestões para a semana que se avizinha

Três sugestões para esta semana:
1. "Dear Wendy", escrito por Lars Von Trier e protagozinado por James "Billy Elliot" Bell;
2. "Die Hard 4.0: Viver ou Morrer", o regresso de Bruce Willis como John McClane;
3. "Shrek, o Terceiro", desta vez com mais e melhores (?) personagens, incluindo uma neurótica equipa de princesas.

Eis os trailers dos dois primeiros...

Ovelha Negra

Está prestes a estrear nos EUA "Black Sheep", um thriller gore em tom de comédia do neo-zelandês Jonathan King. O conceito - experiências genéticas tornam dóceis ovelhas em impiedosos predadores - parece idiota, mas o resultado é curioso.

Últimos trailers "Ordem da Fénix"

Os dois últimos trailers para televisão de "Harry Potter e a Ordem da Fénix" ("Harry Potter and the Order of the Phoenix"), o primeiro dos quais a incidir sobre a fabulosa Imelda Staunton ("Dolores Umbridge"). Estreia a 12 de Julho em Portugal.

Luc Besson ensandeceu

Onde pára o Luc Besson de "Leon, o Profissional" ou "O Quinto Elemento"? Porque é que insiste em escrever e produzir estas "coisas"? "Taxi 4", mais um insipiente episódio da saga, estreia a 14 de Junho em Portugal. Eu, friso já, NÃO vou ver!

Tributo: "Amor Cão"

No currículo de Alejandro González Iñarritu constavam apenas uma curta-metragem e um telefilme quando explodiu para o Mundo com "Amor Cão" ("Amores Perros"), em 2000. Este filme definiu um estilo pessoal para as obras seguintes, inspirou cineastas e argumentistas norte-americanos e despertou o interesse por uma certa geração de realizadores mexicanos, que inclui Guillermo Del Toro e Alfonso Cuáron, dois conterrâneos a jogar na mesma divisão. No entanto, nenhum destes é capaz de captar a crueza da realidade com tamanha objectividade.

"Amor Cão" é um cruzamento de histórias, com início num acidente de viação e onde, aparentemente, o único ponto comum é o amor exarcebado por canídeos. Um rapaz sem condições financeiras coloca o seu pitbull a render em lutas clandestinas, para ajudar a sustentar o sobrinho e poder fugir com a cunhada; uma manequim de sucesso, paralisada na sequência de um desastre, vê o seu caniche desaparecer sob o soalho da casa para onde se mudou com o amante e a relação a desabar entre a busca pelo cão e os dias depressivos em cadeiras de rodas; um sem-abrigo misterioso, antigo assassino a soldo, vive rodeado por uma matilha de cães até entender que a vida não faz sentido distante da filha.

É na solidez com que cruza estes três "plots" que Iñarritu se revelou não só como uma excelente realizador, como um brilhante contador de histórias. O anacronismo em que estas se alinham - só mais tarde se entende a relação entre elas -, é essencial para manter o espectador na expectativa de compreender uma associação nunca evidente nos primeiros minutos. Admito que as minhas sequências favoritas são as que envolvem a modelo, e o seu desespero pelo cão que se enfia por tempo indeterminado pelo chão. É no retrato da futilidade daquela mulher, do seu contexto e das suas efémeras aspirações - uma crítica social também presente nos restantes segmentos - que o realizador demonstra a sua versatilidade em abordar diferentes ambientes, uma espécie de tubo de ensaio para o seu magistral "Babel". Algo que o argumentista e realizador sobrevalorizado Paul Haggis jamais conseguiu atingir com o seu "Crash: Colisão", tão óbvio e descarado que chega a ser constrangedor (não sei se repararam, mas não há personagem que nos primeiros 20 minutos não profira um comentário racista, não vá o espectador alienar-se do assunto do filme).

É também em "Amor Cão" que Iñarritu dá oportunidade a Adriana Barraza, actriz injustiçada na última cerimónia dos Óscares. E é em "Amor Cão" que este Robert Altman dos nossos dias, soberbo na montagem e na diversidade, prova que há mais e bom cinema para além do país que lhe faz fronteira. 5 estrelitas

Na passerelle de Outono

Como se de um desfile de moda se tratasse, antecipo aqui as "tendências" para a próxima estação: o Outono, porventura das melhores altura do ano para ir ao cinema - acabaram-se os "blockbusters" e começa a corrida aos Óscares. E os "modelitos" são...

1. Resident Evil 3: Extinção, Russell Mulcahy, com Milla Jovovich - estreia a 11 de Setembro em Portugal;
2. The Brave One (trailer), de Neil Jordan, com Jodie Foster - estreia a 25 de Outubro;
3. 30 Dias de Escuridão, de David Slade, com Josh Hartnett - estreia a 15 de Novembro;
4. Beowulf, de Robert Zemeckis, com Anthony Hopkins, Angelina Jolie (na foto) e John Malkovich - estreia a 29 de Novembro.

Um português em "Saw IV"

"Saw IV" que, pelo que vi n'"O Legado" só poderá funcionar como prequela, já está em pré-produção. E, desta vez, a acompanhar os sádicos Amanda e Jigsaw, estará um tuga! Trata-se do actor Justin Louis (nascido Luís Ferreira), natural da ilha Terceira, Açores, que já fez uma perninha no CSI: Miami e consta agora no elenco do novo "Saw". O actor, que chegou a ser considerado, há duas décadas, para substituir Johnny Depp na popular série "21 Jump Street", é mais conhecido como actor de televisão, principalmente pelo biopic do multimilionário Donald Trump. Vamos ver como se sai o filho de portugueses criado no Canadá.

Tributo: "Tudo Sobre a Minha Mãe"

No "longínquo" ano de 1999, o Mundo parecia ter descoberto Almodóvar. "Tudo Sobre a Minha Mãe" era aclamado em festivais, e as pessoas acorriam ao cinema ao encontro de um cineasta com um percurso ímpar e multipremiado, mas nunca tão "mainstream". Aquele filme era o mais universal de uma filmografia tematicamente marginal. No fundo, "Tudo Sobre a Minha Mãe" era e é um dramalhão, sobre a dor da perda de um filho, da conciliação com o passado como caminho para a libertação, do poder da amizade incondicional. Identificável, portanto. E brilhante. Como Almodóvar nunca mais foi.

À distância do hype internacional, percebe-se como este filme se tornou um clássico. A sensibilidade de Almodóvar nunca esteve tanto à flor da pele, nem antes, nem depois. A sequência de Manuela a correr à chuva para a câmara, que não é mais do que o olhar de um filho moribundo, gritanto, desesperada: "Hijo mio! Hijo mio!", o discurso de Agrado - magistral e honesta Antonia San Juan -, Huma Rojo perdida, a virilidade de Lola que, mesmo com umas mamas maiores do que as da mulher, impunha a sua masculinidade quando esta enfiava um biquini... Almodóvar criou o mais interessante, ecléctico e profundo núcleo de personagens que o cinema europeu jamais conheceu. E uma história que poderia ser arrastada por um pastelão venezuelano é tratada com uma sinceridade emocional pouco usual, que rompe todas as regras do sentimentalismo barato, centrando-se numa personagem, Manuela, que interfere na vida de um punhado de pessoas à deriva. No centro do seu drama, aquela mulher, e apenas uma mulher, é capaz de deixar um rasto luminoso na vida de toda aquela gente.

Os filmes que se seguiram, e estou a recordar-me de "Fala com Ela" ou "Má Educação" ("Volver" é diferente) são produto de um realizador pretensioso, inebriado pelo Óscar e pela atenção internacional. Almodóvar regressou a universos agrestes, ácidos e cruéis, onde a esperança soa sempre a trágico. Em "Tudo Sobre a Minha Mãe", uma tragicomédia que só na aparência é pesada, há um irónico despojamento de emoções, desbragado, escancarado ao Mundo como se Almodóvar tivesse aberto o seu próprio coração. E é isso que todos nós esperamos do cinema de autor. 5 estrelitas

Visualmente arrebatador

Estreia em Portugal a 21 de Junho, este "Inimigos do Império" (The Banquet), da mesma equipa de "O Tigre e o Dragão" e dos coreógrafos de "Matrix" e "Kill Bill".